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Pensando as Ambiências pela Subjetividade
Penser les Ambiances à travers de la Subjectivité
Curso de Extensão VI Edição
06 de Maio - 08 de Julho, 2021

Cours d'Extension VI Édition
06 Mai - 08 Juillet, 2021

REPOSITÓRIO

"Arquitetura, Subjetividade e Cultura: Pensando ambiências pela subjetividade" foi um momento valioso de trocas e aprofundamento nas noções de alteridade, identidade e memória, em especial na prática e na pesquisa em Arquitetura e Urbanismo. Em 2021, a modalidade remota permitiu o intercâmbio com nossos parceiros nacionais e internacionais. Confira aqui neste repositório os fichamentos e ensaios produzidos pelos participantes do curso ou assista aos vídeos completos das palestras.

EIXO 3: Afetividade, Percepção e Identidade

Por Alexsander Laurindo Moraes, Elisabeth Guedes de Oliveira, Esther Ribeiro Costa Xavier, Gabriela Vargas Rodrigues, Giovanna Mateus Amorim, Inahra Cabral Alves da Silva, Juliana Viégas de Lima Valverde, Lucas Elber de Souza Cavalcanti, Natalya Cristina de Lima Souza e Raquel Xavier Laffite


INTRODUÇÃO


O fichamento tem como objetivo confrontar as idéias dos autores de três livros: La

percepción del espacio urbano: conceptos, métodos de estudio y su utilización en la

investigación urbanística de Antoine S. Bailly; A casa e a rua de Roberto Damatta; e Projeto

do Lugar: colaboração entre a psicologia, arquitetura e urbanismo de Vicente Del Rio,

Cristiane R. S. Duarte e Paulo Afonso Rheingantz.

Neste entendimento, foram extraídos os conceitos-chave que norteiam as obras

consultadas, buscando estabelecer diálogos e interseções que dessem conta da temática

Afetividade, Percepção e Identidade no campo de estudo das ambiências.


TEXTO 1: BAILLY, ANTOINE S. La percepción del espacio urbano: conceptos, métodos de

estudio y su utilización en la investigación urbanística. (trad. espanhola) Madrid: Instituto de

estudios de administración local, 1978, p. 107-125.


SOBRE O AUTOR

Professor Emérito da Universidade de Genebra, Doutor em Geografia, Antoine Bailly

estudou e ensinou na América do Norte, França e Suíça. Ele tem sido professor visitante em

40 universidades estrangeiras e é o autor de mais 30 livros de ciência regional, geografia

humana e políticas de saúde (http://www.antoinebailly.com/).


SOBRE A OBRA

A obra é resultado de uma “síntese multidisciplinar” das análises feitas pelo autor para

sua tese em cidades dos continentes europeu e norte americano (defendida em 1977). Ele

selecionou, para a publicação, exemplos que ilustram o enfoque cognitivo e “conductista”

(behaviorista/comportamental) da geografia.

No capítulo introdutório “O entorno urbano e o homem” (p.15), o autor levanta o

questionamento ‘Por que estudamos a percepção do espaço urbano?’. Como resposta,

aponta que as reações observáveis dos comportamentos individuais variam em função do

sujeito, tipos de mensagens e do entorno. Desse modo, as pessoas ou organizações podem

escolher o tipo e quantidade de informações que os interessam sobre a cidade. Com isso, o

objetivo da ‘geografia comportamental’ é captar os vínculos entre o espaço e conjunto dos

fenômenos perceptivos e atitudinais diante da projeção dos estímulos do meio no

comportamento humano (p.19-20). Sendo assim, o autor infere que, se queremos (como

pesquisadores) compreender a “imagem da cidade”, devemos analisar as relações subjetivas

com o meio (p.21). Então, a preocupação da obra é conhecer (em diversas escalas e através

de métodos distintos) o modo como a cidade é percebida e vivida (p.24).


CAPÍTULO 3 - O SENTIDO DO LUGAR

O capítulo 3 foi pré-definido para a realização do presente fichamento pelas professoras do

curso. Ele está dividido em cinco partes precedidas de uma pequena introdução (p.107),

responsável por situar o conceito de “apego ao terreno” (ou “adesão territorial”) como

inserido nas noções de territorialidade. Para o autor, desde a ordenação do espaço urbano,

esse é um dos principais componentes do comportamento humano, sendo resultado das

relações de experiência e familiaridade com a noção de atribuição de valores. Com base em

Sommer (1969), Bailly reconhece que esse fenômeno contribui para a formação de espaços

protetores, onde os indivíduos que possuem necessidades inconscientes de segurança se

sentem cômodos.


A primeira parte do capítulo (p.108) apresenta como o campo da territorialidade é repleto

de investigações de diferentes áreas de estudo (psicologia, antropologia, geografia e

urbanismo) que analisam o sentimento de propriedade e a avaliação do espaço pessoal

(“proxemia” ou proxêmica - HALL, 1966) para definir suas noções. Esse sistema norte

americano de Hall (1966) serve de referência para vários pesquisadores, embora seja

variável conforme culturas diferentes. Ele distingue três níveis de organização espacial (fixa,

semifixa e informal) e oito noções de distância pessoal (íntima, pessoal, social e pública -

divididas cada uma em próxima e distante). Dentre outros exemplos que estabelecem

tipologias dos espaços, Bailly destaca a relação entre os conceitos de “conchas” (MOLES;

ROHMER, 1972) e “unidades ekísticas” (DOXIADIS, 1968) que ilustram como é formada uma

“bolha fenomenológica” que distingue o indivíduo e o exterior.


Ao apresentar uma síntese da literatura sobre o tema (p.111), o autor cita a noção de

Norcliffe: ‘a territorialidade urbana é o comportamento em que as pessoas que usam

espaços semelhantes se identificam com ele, desejando acentuar o controle sobre o mesmo

através da resistência às intrusões provenientes de zonas vizinhas’ (1974, p.312). Após essa

breve revisão, Bailly conclui que outros autores acabavam limitando o estudo da

territorialidade de acordo com o que os interessava, sendo uma originalidade da geografia

comportamental em considerar os espaços que os indivíduos se sentem “territorialmente

bem”, identificando-os e delimitando setores com condições favoráveis, de modo que se

possa modificar ou preservar o caráter de zonas homogêneas ou heterogêneas.


As partes 2 e 3 do capítulo são responsáveis por apresentar alguns estudos que se

aprofundaram sobre o sentido do lugar em uma noção psicológica (p.112) e subjetiva

(p.115). Dentre os trabalhos que estudaram o simbolismo dos territórios urbanos a partir de

uma noção psicológica, destacam-se as concepções de: Lynch (1960) - vias, limites, bairros,

nós; Howard (1898) - cidade-jardim e reagrupamento dos indivíduos; Perry (1929) - unidade

de vizinhança; Lewis (1972) - relação de “amor” com as pequenas cidades; Gans (1962) -

aldeia e comunidade; Keller (1968) - vizinhança urbana.


Sobre a satisfação residencial e sentimento de pertencimento a uma comunidade (p.114),

Bailly apresenta as variáveis levantadas por Meeker (1971): i) valores dos indivíduos; ii)

percepção de possíveis alternativas; iii) consequências dessas percepções nas pessoas e

grupos; iv) normas sociais. E complementa essa análise com as dimensões estudadas por

Ermuth (1974): a) rede de interação social; b) identificação territorial; c) grau de isolamento.

Por fim, a noção psicológica ainda é associada, pelo autor, ao tempo de moradia do

indivíduo e os objetivos e juízos comuns dos grupos.


A noção subjetiva do sentido do lugar parte do princípio de que a cidade é “parcialmente

imagem visual, experiência e símbolo” (p.115). Portanto, a utilização dos espaços difere

segundo os indivíduos e grupos estudados, mas algumas áreas da cidade podem ter suas

imagens estereotipadas por causa das relações de classe, hierarquias sociais e status

econômicos. Assim, dentre as variáveis que podem modificar o sentido do lugar (apesar de

nem todos os autores concordarem), estão: i) pertencimento ao grupo; ii) sistemas de

referência; iii) raça e etnia; iv) lugar de trabalho; v) idade e gênero.

Através de alguns exemplos, Bailly demonstra que quanto mais uma pessoa frequenta um

bairro, maior a noção de territorialidade, familiaridade com a área e sensação de identidade

e segurança. Mas, como um mesmo indivíduo pode pertencer a várias organizações

espaciais (de moradia, social, trabalho), sua representação mental da cidade, vai ter a ver

com o grau de importância dada a cada grupo que frequenta. Portanto, o espaço urbano

tem imagens que variam de acordo com a dinamicidade de interpretações do meio e

experiências pessoais.


A parte 4 do capítulo trata da representação territorial e comportamentos territoriais

(p.119). De acordo com o autor, a superposição de vários grupos em um mesmo espaço

provoca conflitos, especialmente nos limites das áreas. Em geral, quanto mais contrastantes

são esses limites, mais sólida é a estrutura interna do grupo, por isso, quando essas pessoas

percebem que sua identidade e segurança estão sendo ameaçadas, tendem a ter reações de

hostilidade. Bailly apresenta, então, o levantamento de Wolpert (1967) dos comportamentos

sujeitos ao stress, que são: dificuldade de adaptação; agressividade; respostas

estereotipadas e erros de julgamento; desorganização das atividades; rigidez de soluções;

sensibilidade À pressão do tempo e entorno; e suscetibilidade em acreditar nos meios de

comunicação. Diante disso, a estratégia dos grupos que defendem seus territórios pode

variar entre ações diretas para impedir a invasão ou defensivas, como evitar o contato com

os outros (p.120-121).


A parte 5, sobre os elementos de codificação dos espaços pessoais (p.121-122), enfatiza

que, com frequência, algumas decisões sobre o sistema urbano são mais obra das

organizações do que escolha livre do indivíduo. Sendo assim, por causa dessa

"mediatização'' nas relações entre o homem e o meio urbano, a noção de territorialidade

está mudando. Logo, as modificações das estruturas sociais, administrativas, políticas e

econômicas são suscetíveis de transformar a imagem do espaço (p.125).

TEXTO 2: DAMATTA, Roberto. A casa e a rua. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. 5ªed.

SOBRE O AUTOR

Roberto Augusto DaMatta é um antropólogo, sociólogo e cientista social ativo de 84 anos.

Possui formação de mestre e doutor pela Universidade de Harvard. No âmbito acadêmico

ele possui o cargo de chefe no departamento de Antropologia da Universidade de Notre

Dame (EUA), atua como professor do Museu Nacional da UFRJ e também é professor titular

de antropologia social do Departamento de Ciências Sociais da PUC-RJ. Além de antropólogo

e professor, ele já trabalhou como produtor brasileiro de TV, conferencista, consultor e

colunista de jornal. No começo de seus estudos, sua pesquisa procurava entender as

populações indígenas. Depois de um tempo, ele acabou migrando de foco e passou a

estudar a sociedade brasileira, em geral. Em seus textos, ele relata as peculiaridades da

composição social do país, os diferentes papéis desempenhados pela identidade individual,

a música e a literatura como ferramentas de análise - para tecer um painel otimista do

cotidiano brasileiro.


SOBRE A OBRA

O livro foi publicado pela primeira vez em 1985. É considerado um livro essencial para quem

deseja compreender a sociedade brasileira e sua rede de relações. A ideia central do estudo

é que, no Brasil, a casa e a rua não representam apenas espaços geográficos, mas são

também, entidades morais, esferas de ação social. O autor afirma que o comportamento dos

cidadãos pode variar de acordo com o ambiente social em que se encontra. Assim, nossa

sociedade teria uma cidadania em casa, outra no centro religioso e outra na rua.


TEMÁTICA

Em uma primeira análise, observa-se que, na sociedade brasileira, tanto a casa, quanto a rua

referem-se a categorias sociológicas. Sendo assim, tais ambientes não estão relacionados

apenas aos espaços geográficos ou aos aspectos físicos comensuráveis, mas sim, ao que o

autor denomina de entidades morais, as esferas de ação social. Dentro desse recorte,

tornam-se nítidas as questões não só sociais, mas também culturais que se destacam no

texto. A partir desta configuração, DaMatta apresenta e elucida como o comportamento de

um determinado indivíduo se transfigura radicalmente de acordo com o ambiente social em

que o mesmo se encontra, dando ênfase à rua - espaço público - e à casa - espaço privado.


PRINCIPAIS ASSUNTOS/ABORDAGENS

O texto aborda as diferentes maneiras que vivenciamos - subjetividade - os espaços tanto da

casa, quanto da rua. Inicialmente, o autor aborda como a demarcação espacial das cidades

brasileiras se diferem das cidades norte-americanas, tendo em vista que no Brasil há uma

hierarquização dos espaços - centro e periferia - muito clara. Outra diferenciação se destaca

a partir da nomeação das ruas, visto que nos Estados Unidos há uma certa lógica racional

através de coordenadas geométricas, enquanto no território brasileiro, muitas das vezes

essa lógica tem um contexto social - denunciando as atividades que nelas aconteciam.

O autor cita as praças e adros (que configuram espaços abertos e necessariamente públicos),

nas cidades ocidentais, como um ponto de foco de relações entre os indivíduos em posição

de liderança (santo, líder, chefe da igreja e do governo) e o seu povo, que o complementa.


Além disso, de acordo com o mesmo, esses locais públicos e abertos têm potencial

constante de encontro entre alguém que interpreta uma mensagem e a multidão que a

recebe e cristaliza em um drama que sugere ser a sociedade algo inventado pelo indivíduo,

que nesses momentos, passa a sua verdade para a massa. Essas zonas também assumem

um importante papel na mediação de temporalidades diferenciadas, pois é capaz de

interligar o tempo de uma pessoa - individualmente - à história e a continuidade da

sociedade, que conforme Durkheim, existe antes de nós e continuará existindo depois.

Da Matta discorre acerca da presença constante de monumentalidade posicionada em

praças públicas. Os materiais imperecíveis desses monumentos instalados nesses locais

abertos (pedra, bronze, aço, concreto, tijolo) possuem a função de estabelecer, por meio

dessa resistência física de sua materialidade, uma aliança entre o intérprete e a massa, o

líder e o povo. Sob essa perspectiva, não é por acaso que espaços urbanos (palácios, igrejas,

mercados, quartéis) que se pretendem eternos são sinalizados. Espaços estes, que

representam a possibilidade de emoldurar a vida social num sistema fixo de valores e de

poder.


Além deste fator de percepção do espaço público e sua monumentalidade, a obra também

traz reflexões acerca do comportamento humano, de acordo com o local onde o indivíduo se

encontra. Nessas análises, Roberto traz consigo os conceitos de “Casa & Rua”. Quando

comenta sobre os conceitos “Casa” e “Rua”, ele não está mencionando apenas o local físico.

Nesse momento, ele está se referindo a todo o espaço social. Nesses ambientes, temos

posturas diferentes e somos regidos por uma moral distinta. Quando estamos em casa, nós

ficamos mais à vontade. Já na rua, a nossa postura muda. As roupas seguem o mesmo

raciocínio, em casa podemos nos vestir como quisermos – na rua não é bem assim que

funciona. Em casa, nós conversamos sobre assuntos mais íntimos e reservados. Porém, na

rua, nós conversamos sobre coisas mais genéricas. Isso tudo acontece porque na rua nós

temos uma imagem a zelar. A casa é retratada em nosso imaginário como um ambiente de

aconchego, de familiaridade, enquanto a rua é retratada como um local perigoso e hostil.

Por fim, o sociólogo comenta que apesar da casa ser um local mais hierarquizado e a rua

mais igualitária, as atitudes mostram justamente o inverso – limpamos a nossa casa, mas

não temos problema em sujar as nossas ruas.


Além disso, a própria organização espacial da casa brasileira denota esses aspectos do que é

socialmente “aceitável” em cada cômodo, separando rigidamente a sala de visitas ou de

jantar, normalmente situada à frente da casa, e os fundos, que possuem cozinha e área de

serviços que não devem ser acessadas. Essa divisão dos espaços se dá marcadamente por

questões raciais, que remontam à escravidão; por questões de gênero, que visavam relegar

as mulheres para o íntimo da casa; e também por idade. Apesar dessa segregação, a rua

muitas vezes é apropriada como “casa”, sendo como moradia ou para eventos, e também a

casa tem seus espaços “arruados”. Além dos elementos que fazem a ponte entre dentro e

fora, como as janelas, varandas, salas de visitas, geralmente possui um corredor como

espaço de relacionamento entre seus diferentes cômodos, que seriam como casas na rua,

com suas portas voltadas ao corredor; e as próprias áreas da casa seriam como regiões da

cidade: as salas de visitas e varandas como praças, a cozinha e o quintal como subúrbios.


Ademais, o sociólogo traz reflexões acerca da festividade do carnaval de rua, a maior festa

popular do país. Nesses momentos festivos, o mundo é unificado por meio de uma visão

onde a rua e a casa se fundem e se tornam espaços contíguos, reunidos por um convivência

temporariamente utópica de espaços rigidamente divididos no mundo diário. Durante esse

período, as ruas são tomadas por grande fluxo de pessoas, roupas peculiares, fantasias,

danças, músicas e liberdade. Uma festa que se expande ao espaço público e proporciona

vivências e experimentações diferentes das que estamos acostumados a observar no

cotidiano. É como se nesses 4 dias de fevereiro ou março, a rua virasse a casa da população.

Onde nesse espaço utópico, que nesse momento, pode ser comparada ao nosso lar, temos

liberdade para agir como queremos, nos sentir mais à vontade, interagir com maior

facilidade com outras pessoas, e proporcionar encontros que se diferem dos que estamos

habituados, quando se trata da própria vizinhança local, -onde usualmente podemos, muitas

vezes, nos limitarmos a cumprimentos básicos como o de “bom dia”.


Por fim, o autor cita o espaço como o ar que respiramos: Sabemos que sem ele morreremos,

mas não conseguimos ver nem sentir essa atmosfera que nos nutre de força e vida. Para ver

e sentir o espaço, se torna necessário se situar, se inserir em uma certa perspectiva. Ainda

sob essa perspectiva de importância e relevância, não se pode falar de espaço sem falar de

tempo. Para nós brasileiros os dias da semana são marcados por concepções diferentes e

complementares de tempo. Sábado e domingo são os dias mais internos, de ficar em casa

com a família. E, os outros dias são tidos como dias mais externos de ficar mais tempo fora

de casa, trabalhando. Sob esse aspecto, mais uma vez nota-se como a casa e a rua são

inerentes às nossas vivências do dia a dia. Como um todo, as cidades brasileiras se

singularizam por terem muitos espaços e muitas temporalidades que convivem

simultaneamente. Assim, nos relacionamos com diversas pessoas, com diversidade

temporal, em diversos espaços, sofrendo sendo uma influência constante desses meios, por

mais imperceptíveis que possam parecer.


Referências Bibliográficas:


ROBERTO DaMatta. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo:

Itaú Cultural, 2021. Disponível em:

<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa4009/roberto-damatta>. Acesso em: 22 de

Mai. 2021. Verbete da Enciclopédia.



TEXTO 3: DEL RIO, V.; DUARTE, C.R.S.; RHEINGANTZ, P.A. Projeto do Lugar: colaboração entre

a psicologia, arquitetura e urbanismo. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria /

PROARQ-FAU-UFRJ, 2002.


SOBRE OS ORGANIZADORES

Vicente Del Rio — Arquiteto e Urbanista formado pela FAU-UFRJ em 1978, Mestre em Arts in

Urban Design pela Oxford Polytechnic em 1981 e Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela

USP em 1991. Foi professor titular da FAU-UFRJ e sua produção acadêmica se relaciona aos

temas de desenho urbano, urbanização, revitalização e requalificação urbanística.


Cristiane Rose Duarte — Graduada em Arquitetura pela FAU-UFRJ em 1981 e pela École

d'Architecture de Paris-La Villette em 1983, mestre pela Université de Paris XII em 1985 e

doutora pela Université de Paris I em 1993. Além disso, concluiu seu pós-doutorado na

University of California Berkeley em 2014. Foi professora titular da FAU-UFRJ desde 1983 até

2017 e hoje coordena o Núcleo Pró-acesso e o Laboratório Arquitetura, Subjetividade e

Cultura (LASC) do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da UFRJ (PROARQ).


Paulo Afonso Rheingantz — Arquiteto formado pelo Instituto Metodista Bennett em 1976,

mestre em Arquitetura pela UFRJ em 1995 e Doutor em Engenharia de Produção pela UFRJ

em 2000. Concluiu seu pós-doutorado no City and Regional Planning Department, na

California Polytechnic State University em 2009. Atualmente é professor colaborador

voluntário do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio

de Janeiro (PROARQ) e do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal de Pelotas.


SOBRE A OBRA

O livro foi lançado em 2002 como um resultado do Seminário Internacional Psicologia e

Projeto do Ambiente Construído realizado através de uma parceria entre o Programa de

Pós-Graduação em Arquitetura (PROARQ-UFRJ), a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

(FAU-UFRJ) e o Programa de Estudos Interdisciplinares e Ecologia Social (EICOS-UFRJ), no ano

2000.


TEMÁTICA

Os debates apresentados no livro partem de um contexto de distanciamento da prática de

projeto da relação pessoa-ambiente, que os autores descrevem como a “falta de métodos e

processos projetuais que considerem as percepções, as imagens, os valores e as expectativas

da própria população na ‘construção’ da realidade social”.


A partir disso, se iniciam interlocuções entre a Psicologia e a Arquitetura e o Urbanismo no

que diz respeito à compreensão das relações entre o Homem e o Ambiente Construído com

o objetivo de melhorar a qualidade na produção de ambientes, levando em consideração a

percepção do usuário.


PRINCIPAIS ASSUNTOS/ABORDAGENS

Na Apresentação do livro, os organizadores ressaltam os principais assuntos tratados na

coletânea de artigos que se dividem em quatro capítulos correspondentes aos eixos do

evento: 1) A colaboração entre Psicologia e Arquitetura e Urbanismo no Ensino; 2) A

representação como ponte entre a cognição e a concepção do ambiente construído; 3)

Integração de enfoques: percepção, cognição e comportamento; 4) Inovações e visões para

o novo milênio.


Inicialmente, os autores falam da importância do estudo da percepção e dos processos

cognitivos no processo projetual. Segundo eles, “a existência de consequências

neuropsicológicas e neuroendocrinológicas geradas pela percepção e pelos estímulos

ambientais é um fato comprovado. Os estímulos provocam respostas neuro-hormonais e

imunológicas com potencial de inter-relacionar as respostas afetivas a esses ambientes com

a saúde mental e seu valor recuperativo”.


As reações que ambientes construídos provocam em seus usuários podem tanto ser

negativas, como descontentamento e desprezo, quanto positivas, como apego e

identificação, e têm relação direta com a qualidade físico-ambiental dos mesmos.

O descontentamento é entendido como o principal motivo pelo qual determinados

ambientes costumam ser vandalizados. Esse fenômeno pode ser observado em ambientes

escolares que não correspondem com as demandas dos alunos como seus principais

usuários, e tem relação direta com dificuldades no aprendizado e com consequências como

a evasão escolar precoce.


Para os autores, “sensação de abandono, dificuldade de concentração, incapacidade de

relacionar-se com vizinhos, saudades constantes e tensão são manifestações psicológicas” e

estão diretamente relacionadas ao descontentamento e exemplificam isso por uma pesquisa

de Psicologia Ambiental desenvolvida para a UNESCO sobre os efeitos que novas cidades da

Grã-Bretanha têm sobre seus moradores, o “new town blues”. O mesmo pode ser observado

quando determinadas comunidades são removidas por conta de riscos ou para execução de

obras públicas no local, como foi o caso da Vila Autódromo em 2011, e a maior parte dos

moradores é realocada em conjuntos habitacionais do Programa Minha Casa Minha Vida em

localidades com as quais não se identificam e que na maioria das vezes os distancia de suas

atividades de rotina e seus grupos familiares.


Por outro lado, reações de apego e identificação com o ambiente construído são expressas

das mais diversas formas, de acordo com a forma com a qual o usuário se relaciona com o

lugar. Os autores mencionam que em uma pesquisa feita em uma favela na Argentina, os

moradores priorizavam mais gestos simples como a colocação de flores artificiais e vasos

coloridos para embelezamento de suas casas e da comunidade como um todo do que a

proposta de melhorias de infraestrutura básica.


De igual forma, a realização de processos projetuais participativos influencia diretamente na

forma com que os usuários percebem e se identificam com os ambientes. Um exemplo disso

é o projeto de habitação social realizado pelo escritório USINA através do chamado “Mutirão

União da Juta” (1992-1998), ligado aos movimentos de moradia da zona leste de São Paulo.

Os moradores participaram de todo o processo, desde a concepção das tipologias e na

implantação do complexo, o que os colocou no lugar de agentes ativos na expressão de suas

próprias necessidades e identidades no projeto, até a conclusão das obras.


EXEMPLO DE PESQUISA

Em se tratando do Eixo 1 (A colaboração entre Psicologia e Arquitetura e Urbanismo no

Ensino), como já mencionado anteriormente, da presente obra, foi retirado como

exemplificação, o artigo Plantando sonhos: o jardim como campo terapêutico, de Claudia

Azevedo, que atuou como psicóloga e coordenava a Oficina Terapêutica de Jardim

“Projeto Plantando Sonhos”, no Instituto de Psiquiatria, na UFRJ.


Este projeto consistia em criar vida por meio da relação com uma outra forma de vida:

A PLANTA. Tratava-se de uma oficina terapêutica de jardim, realizada inicialmente na Colônia

Juliano Moreira, em 1993, e que posteriormente, em 1997, se estendeu para o Instituto de

Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que contava com participantes que

apresentavam algum tipo de transtorno psíquico, objetivando a fertilização do solo com o

cultivo das emoções, bem como revitalizar os espaços livres da instituição e explorar as

áreas externas adjacentes, portanto, além muro. A proposta terapêutica consistia em

produzir uma melhora na qualidade das relações sociais dos pacientes, tendo em vista, os

aspectos objetivos e subjetivos.


O ato de plantar, segundo Jung, é articulado à fecundidade, feminilidade e sexualidade, e

nesse processo de construir um jardim, aprende-se a ter paciência para que as espécies

nasçam e cresçam. O cultivo, por sua vez, é uma atividade que pode estar associada ao

processo de linguagem “não verbal”, permitindo a elaboração de uma imagem

correspondente ao jardim. A prática de jardinagem favorece a externalização dos conteúdos

subjetivos, que são eventualmente difíceis de serem desvelados pelas palavras, portanto, a

atividade pode oferecer aos pacientes com dificuldade de relação, uma oportunidade de

saída do seu isolamento interno, por meio da interação com o outro e pela elaboração do

canteiro de plantas.


A atividade terapêutica de jardim favorece a exteriorização por meio do plantio.

Quando um paciente está passando por uma experiência de sofrimento psíquico, sua

subjetividade, encontra-se confusa, especialmente na dimensão em que se encontram os

afetos, o que em consequência surge uma percepção alterada da realidade. Dependendo do

grau de confusão subjetiva, poderá haver uma desvinculação entre ele e seu meio,

acarretando então uma ruptura dos laços socioafetivos que o paciente possuía.

Para que haja uma reaproximação dele com sua realidade, os procedimentos terapêuticos

devem ser os mais adequados possíveis, bem como associados dentro de um espaço

acolhedor, ou seja, um lugar ajardinado.


“Percebo que durante a atividade, na qual se compartilha a experiência de construir

um jardim junto com o cliente, é desenvolvido um elo afetivo com o lugar. A partir

do momento em que há uma identificação por parte do paciente, vivendo cada etapa

para a elaboração do canteiro, existe a possibilidade de interiorizar tal experiência,

reconstruindo, simultaneamente, o espaço referente à sua subjetividade.

(AZEVEDO, Cláudia, pág. 127, 2002).


O Projeto Plantando sonhos, também tem como objetivo, a reabilitação psicossocial, que

pode ser entendido como o processo no qual se procura resgatar a identidade do indivíduo

instituído psiquiatricamente, reinserindo-o no campo social, e o de oficina terapêutica,

como um espaço em que são desenvolvidas atividades expressivas e artesanais.


Como conclusão do trabalho desenvolvido no IPUB (Instituição Psiquiátrica da UFRJ),

percebe-se que os integrantes da oficina apresentaram modificações comportamentais

quanto à melhora de auto-estima, além disso, foi observado o desenvolvimento de atitudes

e valores renovados relacionados ao meio ambiente, discutindo e comparando diversos

assuntos que se relacionam ao comportamento e a qualidade de vida das pessoas que vivem

na cidade e no campo.



Mestranda PROARQ: Esther Ribeiro Costa Xavier - relação com a pesquisa:

“O Campo como Território Educativo: O potencial da interação entre as escolas do campo e a

paisagem rural do município de Teresópolis/RJ.”


A questão central sobre a qual a pesquisa se desenvolve parte do pressuposto de que a

forma com que as escolas públicas rurais são projetadas hoje é extremamente desarticulada

dos territórios nos quais se inserem, assemelhando-se aos moldes da “caixa preta”, que não

leva em consideração a percepção da criança camponesa com relação ao ambiente escolar e

tampouco o potencial pedagógico de seus caracteres locais. Neste contexto, é necessário

que a falta de políticas públicas de manutenção e adequação dos ambientes educacionais

em contextos rurais seja debatida, pois isso contribui para a perpetuação de obstáculos

físicos e psicossociais com relação à educação.


O objetivo geral da pesquisa é explorar, através de processos participativos, o potencial

pedagógico do Campo e das escolas rurais do Município de Teresópolis como ambientes

articulados à vida e à cultura da comunidade, através da valorização da cultura e saberes

camponeses e seu potencial como parte do currículo pedagógico, à ressignificação da

paisagem agrícola e à exploração da efemeridade do ambiente construído da escola rural.

Esta pesquisa se vincula ao Grupo Ambiente-Educação (GAE) e ao projeto de pesquisa “Do

espaço escolar ao território educativo: O lugar da arquitetura na conversa da escola com a

cidade”. O GAE tem desenvolvido dois tipos de análises em escala local que pretendem,

através da compreensão das relações pessoa-ambiente, identificar o potencial pedagógico

dos ambientes escolares. São eles:

a) Análise tipo-morfológica: leitura de aspectos funcionais, aspectos históricos e de

evolução urbana, aspectos ambientais e paisagísticos e aspectos arquitetônicos

urbanísticos;

b) Análise afetivo-cognitiva: realização de Oficinas Participativas, aplicação de

instrumentos de percepção ambiental e Avaliação Pós-Ocupação (APO).

A aplicação destas análises e dispositivos de escuta na avaliação de escolas rurais do

município de Teresópolis visa possibilitar uma melhor compreensão de qual é a percepção

dos dos alunos, do corpo pedagógico e também da comunidade com relação ao ambiente

escolar e avaliar a qualidade da edificação, identificando vulnerabilidades e potencialidades

que podem ser levadas em consideração no planejamento das atividades pedagógicas da

instituição, além de analisar possíveis vocações recreativas e de lazer que podem extrapolar

os limites dos muros da escola e invadir o território como extensão da sala de aula.

“A importância do ambiente educacional no processo ensino-aprendizagem tem sido tema recorrente

em pesquisas de vários campos disciplinares, como a pedagogia, a psicologia, a sociologia da infância

e a arquitetura, dentre outras. Por ser o primeiro espaço fora da convivência familiar que insere a

criança numa experiência coletiva e onde ela passa grande parte do seu tempo, o ambiente escolar

possui significativa influência na formação e socialização das crianças.” (AZEVEDO, G. A. N., 2017)


Referências Bibliográficas:


AZEVEDO, G.; TÂNGARI, V.; GOULART, A. B. Do espaço escolar ao território educativo: um

olhar ampliado sobre o lugar pedagógico da educação integral. In: Rheingantz, P. A; Pedro, R.

M; Szapiro, A.M (Orgs.). Qualidade do lugar e cultura contemporânea: modos de ser e

habitar as cidades. Rio de Janeiro: Meridional, pp. 344-368.


AZEVEDO, G. A. N. Configuração de Territórios Educativos em áreas de renovação urbana:

Propostas para um diálogo entre a escola e a cidade. Rio de Janeiro, 2017.


CONCLUSÃO

Como foi possível notar pela identificação dos autores e obras, o campo discutido é alvo de

áreas de estudo que empregam uma diversidade de métodos de pesquisa e terminologias

(geografia, antropologia, sociologia, psicologia ambiental, arquitetura e urbanismo). Tal

comportamento, contribui para uma ampliação da visão do assunto, mas também para

dispersão e confusão entre alguns conceitos, como “identidade”, “afinidade”, “vinculação”,

“valorização”, “apego” e “pertencimento”. Por isso, a importância do Livro “Projeto do

Lugar” para reunir e aproximar essas discussões aos pesquisadores da nossa área.


Ao iniciarmos a apresentação, amarrando o tema às noções de territorialidade e sentido do

lugar, procuramos vincular os espaços arquitetônicos e urbanos como o “OUTRO” que a

fenomenologia reconhece como aquele que é percebido pelo indivíduo para além do seu

corpo. Portanto, trouxemos como exemplos, estudos em que a casa, a rua, o jardim e a

cidade são reconhecidos, experienciados e modificados pelas pessoas, individualmente ou

coletivamente. Acrescentando também a importância de se considerar as dimensões

temporais e culturais como contextualizadoras.


Desse modo, a intenção do grupo foi de não contrapor os autores, mas de complementar

suas abordagens. Para isso, usamos como base da análise o texto de Bailly, por ser o mais

antigo e estruturado em subdivisões que permitiram comparar o que o autor tratou em

estudos na década de 1970 (com exemplos norte-americanos e europeus) com a realidade

brasileira em investigações mais recentes.


Na obra de Bailly (1978) o autor cita espaços em que os indivíduos se sentem

“territorialmente bem” podendo ser modificado ou preservado as zonas homogêneas ou

heterogêneas. Corroborando com este assunto, Del Rio, Duarte e Rheingantz (2002), citam

que ambientes construídos provocam em seus usuários tanto reações negativas quanto

positivas e que o descontentamento, por exemplo, é entendido como motivo principal para

vandalismos.


Também relacionando ambos autores (BAILLY, 1978; DEL RIO; DUARTE; RHEINGANTZ, 2002),

citam que quanto mais as pessoas percebem que suas identidades e segurança estão sendo

ameaçadas, mais agem com reações de hostilidade. Confirmando o livro de Bailly (1978), Del

Rio, Duarte e Rheingantz (2002) apontam que “a existência de consequências

neuropsicológicas e neuroendocrinológicas geradas pela percepção e pelos estímulos

ambientais é um fato comprovado. Os estímulos provocam respostas neuro-hormonais e

imunológicas com potencial de inter-relacionar as respostas afetivas a esses ambientes com

a saúde mental e seu valor recuperativo”.


Adiante, Bailly (1978) trás a noção de territorialidade, familiaridade e sensação de

identidade e segurança, sendo que no espaço urbano as imagens variam de acordo com a

interpretação do meio e as experiências pessoas. Onde Damatta (1997) também afirma as

diferentes maneiras que vivenciamos os espaços tanto da casa, quanto da rua.


As intersecções entre os autores não se resumem às apresentadas até o momento. Em geral

os temas discutidos relatam a experiência de grandes tópicos da psicologia ambiental, como

apego ao lugar, percepção ambiental, pertencimento, entre outros. Por fim, reiteramos o

que já foi discutido na revisão bibliográfica de Speller (2005), quando escreveu sobre o

processo de vinculação ao lugar: “foi destacada a necessidade de uma utilização mais

rigorosa da terminologia” (p.162). Acredita-se que uma conceituação mais específica pode

contribuir para a comparação e evolução de trabalhos futuros e fortalecimento dos estudos.


Referências Bibliográficas:


SPELLER, G. A importância da vinculação ao lugar. In: Soczka, L. (Ed.), Contextos humanos e

psicologia ambiental. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2005, pp.133-167

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