Por Dagmar Dias Cerqueira, Beatriz Cruz Amback, Lucas Yudi Moriya Sampaio, Vanessa Sartori Rodi, Ilana Sancovschi, Heloísa Dallari.
Texto 1: AUGÉ, Marc. Não Lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. RJ:
Ed. Papirus, 2016.
Marc Augé inicia o livro, escrito em 1995, debatendo sobre os trabalhos dos
Antropólogos e dos Etnólogos relativos à proximidade e ao distanciamento em suas
pesquisas. Para ele, a pesquisa antropológica, no presente, trata da questão do outro, o
outro exótico em relação ao “nós”, étnico ou cultural (pág. 22). Essa afirmação se deve
ao fato de que existem três transformações, no mundo contemporâneo, que chamam o
olhar antropológico para uma renovada e metódica reflexão sobre a categoria alteridade:
a aceleração da história (percepção do tempo), que determina uma superabundância
factual (pág. 32); o encolhimento do planeta determinando uma superabundância
espacial (pág. 32) e a superabundância do ego, perceptível pela excessiva
individualização das referências e atenção às singularidades (pág. 38). Augé propõe o
descentramento do olhar para esse novo mundo que ele chama de supermodernidade.
Afirma que, na supermodernidade, o encolhimento do mundo e a
superabundância do espaço levam à produção de “não lugares”, como “instalações
necessárias à circulação acelerada das pessoas e bens” (aeroportos, rodoviárias, salas de
espera, estações de metrô), os meios de transporte (aviões, trens de grande velocidade),
os grandes centros comerciais (hipermercados, shoppings) e ainda os campos de trânsito
prolongado (campo de refugiados) (p.36).
O autor afirma que o lugar do etnólogo e dos indígenas é uma invenção e que o
dispositivo espacial exprime a identidade do grupo, mas é a identidade do lugar que o
funda, congrega e une: “As divisas de território e identidade são ilusórias e se apagam
quando os jovens vão embora” (pág. 48). O objeto do etnólogo, segundo ele, são as
sociedades precisamente localizadas no espaço e tempo.
Na pág.55, Augé traz a concepção de que o lugar antropológico é
simultaneamente princípio de sentido para aqueles que o habitam e princípio de
inteligibilidade de quem o observa, e está além da construção concreta e simbólica do
espaço. Afirma que é geométrico expresso através de três formas: linha, intersecção de
linhas e ponto de intersecção. Além disso, apresenta uma carga de história, de passado,
de relações sociais, de pleno sentido.
O autor se utiliza da definição de que se um lugar é identitário, relacional e
histórico; a negação desses elementos caracteriza um não lugar (pág.73). Para Augé, a
distinção entre lugares e não lugares passa pela oposição do lugar ao espaço, esse
espaço a que ele se refere é o de Michel de Certeau, um “lugar praticado”, de
“cruzamento de forças motrizes em deslocamento” (pág. 75). O lugar de Augé é o lugar
de sentido inscrito e simbolizado, o lugar antropológico (pág.76). A noção de espaço
utilizada hoje é de espaço aéreo, ou, para estereotipar instituições de hotelaria ou lazer,
com ausência de caracterização, às superfícies simbólicas do planeta. Espaço, segundo o
autor, é um termo abstrato em si mesmo e que se aplica a uma extensão, a uma distância
entre duas coisas, ou dois pontos, ou uma grandeza temporal. O espaço como prática
dos lugares e não dos não lugares (pág.81).
Augé designa por não-lugar duas realidades complementares: espaços
constituídos para certos fins (transporte, trânsito, comércio, lazer) e a relação que os
indivíduos mantêm com esses espaços. Para o autor, os lugares antropológicos criam um
social orgânico enquanto os não-lugares criam tensão solitária (pág.87). Sendo assim,
Augé atribui ao não-lugar uma relação de consumo definida por palavras ou textos
prescritivos, proibitivos ou informativos (pág.89), um “contrato” simbólico (passagem,
pedágio, carrinho de supermercado) e com unidades de medição de percursos através do
tempo (chegada, partida, horários) (pág. 94). O não-lugar existe e não abriga nenhuma
sociedade orgânica. Seus indivíduos são definidos como clientes, passageiros, usuários,
ouvintes (pág.101).
O autor salienta que existe, em escala mundial, a tensão entre o pensamento
universal e territorial, e constata que uma parte crescente da humanidade vive, pelo
menos em tempo parcial, fora do território. A partir de um exemplo de voo na Arábia
Saudita, destaca que existe uma intrusão do território no espaço expressa pela equação
do lugar antropológico (terra=sociedade=nação=cultura=religião) (pág.107) e que se
inscreve fugidiamente no espaço.
Marc Augé alerta para que o etnólogo se atente a não perder de vista nem o lugar
imediato de sua observação, nem as fronteiras pertinentes a seus limites exteriores para
não correr o risco de cometer o estrabismo metodológico (pág.108). Encerra o livro
afirmando que é no anonimato do não-lugar que se experimenta solitariamente a
comunhão dos sentidos humanos (pág.110).
Texto 2: PIRES, Amílcar de Gil. O entendimento poético do Lugar como um
Pequeno Cosmos – (Inter-relação Cultura-Paisagem-Arquitectura). in AR: Cadernos da
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Nº 7. Fev. 2010.
O autor Amílcar de Gil e Pires traz a noção de Lugar através de uma perspectiva
poética como um processo de criação relacional do arquiteto com o sítio. Pires se utiliza
do termo “genius loci” para definir a existência de um caráter ou de uma essência
expressos no Lugar através de sua linguagem arquitetônica. Isto posto, a Arquitetura
deveria ser criada em conformidade com a tradição configurada em cada Lugar no
decorrer de sua história particular. O autor o Lugar ao “pequeno cosmos” de
Norberg-Schulz, como um sistema de lugares, sendo necessário que se capte o seu
“genius” (pág.6); este definido como “espírito”, ou seja, “o mundo de objetos reunidos
essencialmente em um Lugar”.
O arquiteto português afirma que o Lugar está para além de marcar uma posição
no espaço, pois afirma-se sobretudo pela sua autonomia cultural, que é reconhecida
tanto pelas vivências que propicia como pelo caráter físico dos elementos constituintes
do seu espaço-arquitetura, elementos naturais e ambientais (pág.7)
Segundo Pires o projeto de Lugar é resultante de relações:
● Relação da Arquitetura com o Lugar- “O lugar, cada lugar, não é um
espaço indiferenciado, existem pontos singulares em cada sítio que lhe dá
origem, que são identificados de modos diversos”.
● Relação Intencional da Arquitetura com a Natureza- “Oposição ao
racionalismo modernista, em função da experiência sensorial e corporal
do homem que habita o seu espaço.”
● Relação Lugar e História- “O sítio pode ser destruído, reformado ou
transformado- perspectiva fenomenológica e poética.” (pág.7)
Pires reconhece que se um sítio está “entre lugares” pode vir a se tornar um
lugar, pelo menos para seus futuros habitantes. Salienta que algumas definições de lugar
não traduzem a vivência do espaço, o lugar é definido, com regularidade, como uma
posição de um corpo num determinado espaço, pressupondo as relações entre corpos
diferentes no espaço e de si com o espaço global. Se apoia em Montaner para sublinhar
que a revalorização da ideia de lugar perpassa pela recuperação da história e da
memória, contrariando o estilo/anti-estilo internacional das cidades contemporâneas
(pág. 8).
O autor salienta que “o movimento do homem acaba por definir o caráter
específico do lugar. É a sua apropriação pelos diferentes usos e hábitos culturais que lhe
confere a identidade” (pág.8). Em consequência, “o espaço arquitetônico corresponde a
um lugar em particular que reflete os diferentes níveis culturais que estão na sua base
conceitual, que contribuem decisivamente para a definição e expressão da sua
identidade e caráter formal” (pág.8).
Pires propõe que na elaboração do projeto de arquitetura seja adotada uma
perspectiva fenomenológica e poética na abordagem do sítio, interpretando seu caráter
original, tornando o desenho o instrumento racionalizado para a transformação do lugar
(pág.8). Afirma que para conceber um edifício o arquiteto deve refletir sobre a
identidade de um grupo, partindo de uma abordagem interpretativa do lugar,
reconhecendo os símbolos de Identidade e proporcionando a interação entre os
utilizadores e os diferentes espaços de pertença individual ou social (pág. 9). O autor
afirma que tanto o conceito de “identidade privada” quanto o de “identidade pública”
devem ser considerados no processo do projeto arquitetônico, cabendo descobrir os
meios que permitam sua comunicação.
Assim, Pires conclui que o arquiteto deve partir da interpretação do Lugar.
Reconhecer aí símbolos de identidade que o auxiliem a projetar um edifício que esteja
em conformidade e consonância com um determinado grupo, de maneira a gerar uma
interação satisfatória entre usuários e os diferentes espaços de pertencimento individual
ou social. O espaço arquitetônico ganha validade quando serve à vida no presente, ao
mesmo tempo em que é testemunha dos valores do Lugar para a sua História.
Texto 3: TUAN, Yi-Fu. Espaço e Lugar: A Perspectiva da Experiência. 1983.
Yi-Fu Tuan, geógrafo, nasceu em 5 de dezembro de 1930 na China. Os seus
estudos se deram em escolas chinesas, das Filipinas e da Australia. Seus estudos no
ensino superior se deram em Londres e na California. Antes de terminar seu
doutoramento, foi professor nas Universidades de Indiana e no Novo Mexico.
Posteriormente, foi professor na Universidade de Toronto, no Canadá, e em seguida
transferiu sua docência para Universidade de Minnesota, sempre dedicando-se a estudos
da geografia humanista. Depois Tuan foi para Madison, onde se aposentou na
Universidade de Wisconsin, onde é professor emérito. Em 2012 recebeu na França o
Prêmio “Vautrin Lud”, considerado o maior prêmio da área acadêmica da Geografia.
Tuan publicou livros importantes para a expansão da geografia humanista,
primeiro: “Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente”,
depois “Espaço e lugar: a perspectiva da experiência” e “Paisagens do medo”.
Publicado originalmente em 1977, a obra Espaço e Lugar: A Perspectiva da
Experiencia, de Yi Fu Tuan, traz importantes reflexões acerca dos modos de
relacionamento das pessoas com os espaços. Apesar da obra ter uma origem na
Geografia Humanista, ela revela importantes ligações com a antropologia, a psicologia,
literatura e arte, e a teologia, para além disso a obra vem sendo discutida por arquitetos
e urbanistas também.
Tuan inicia seu livro com a seguinte afirmação: “‘Espaço’ e ‘Lugar’ são termos
familiares que indicam experiências comuns.” (TUAN, 1983, p.3). Com isso o autor nos
coloca frente a frente com conceitos que parecem estar interiorizados e naturalizados
por nós. No entanto ele prossegue nos instigando a relativizar o entendimento desses
conceitos e coloca questionamentos básicos, como por exemplo “quais as relações entre
espaço e lugar?”; ou “que relações temos com estas entidades?”. Nesse sentido, Tuan
nos induz a questionar nossas próprias identidades e buscar a compreensão de como elas
interferem nos espaços.
Como o próprio título da obra anuncia, Tuan tem uma abordagem experiencial
em suas análises. O autor trabalha os conceitos de espaço e lugar a partir da vivência
sensível entre indivíduo e espaço, e afirma que estes conceitos se unem com frequência
uma vez que o que entendemos como espaço indefinido se transforma em Lugar ao
passo que o reconhecemos e o significamos.
Através da percepção corporal e de analogias a sensações experienciadas, o autor
compara Espaço e Lugar e atribui a eles valores distintos e por vezes contrários que se
mostram essenciais na experiência existencial humana. Enquanto o lugar representa a
segurança, o espaço é a liberdade, de modo que estamos ligados ao primeiro e
desejamos o outro. Segundo o autor, “O Espaço é um símbolo comum de liberdade no
mundo ocidental” (p.61). O espaço estaria associado por um lado, a abertura, ao futuro,
a ação; e por outro lado estaria também associado a exposição, a ameaça e a
vulnerabilidade. O espaço, de acordo com Tuan, não tem sinalização, não tem
definições. O espaço “é como uma folha em branco na qual se pode imprimir qualquer
significado” (p.61) Já o espaço fechado e humanizado é definido pelo autor como
Lugar, como centro calmo e com valores já estabelecidos e significados definidos. Tuan
coloca que a experiencia humana só é completa a partir dessa experiencia dialética entre
Espaço e Lugar, entre liberdade e dependência, entre aventura e refúgio.
O autor busca entender como a experiência do espaço e do lugar é formada ao
longo do desenvolvimento do indivíduo. Dessa forma, ele defende que a mãe é o
primeiro lugar de uma criança, pois apesar de se mover, ela representa estabilidade e
permanência. À medida que a criança cresce, ela passa a se apegar mais a objetos em
vez de pessoas e, finalmente, a localidades. Além disso, ele observa que uma criança
está mais preocupada com os objetos em si do que com a relação entre eles,
classificando as coisas somente com base nos contrastes maiores, de forma polarizada.
O autor também discorre sobre o papel no corpo no espaço, de modo que o
mundo pode ser percebido como o “corpo” mais “espaço”, sendo que o corpo é o vivo,
o receptáculo, e o espaço é a construção do homem. O autor estuda a experiência do
homem no espaço, a habilidade espacial que se transforma em conhecimento espacial.
Quando um espaço é inteiramente familiar a uma pessoa, ele adquire a característica de
lugar.
Outro ponto importante do livro é o conceito de patriotismo. O autor entende a
afeição pela pátria como uma emoção humana comum, e afirma que a sua intensidade
varia entre diferentes culturas e períodos históricos. A pátria é entendida como um
lugar, na concepção do autor.A religião desempenha um papel no patriotismo, podendo
vincular uma pessoa a um lugar ou libertá-la dele. No caso de culto a deuses locais, a
religião atua vinculando uma pessoa a uma localidade, enquanto religiões universais
promovem liberdade uma vez que consideram um Deus onipotente e onisciente,
tratando todas as localidades como igualmente sagradas.
O livro reflete a respeito do papel do tempo no lugar, e são exploradas três
abordagens: o tempo como movimento ou fluxo e o lugar como pausa na corrente
temporal, a afeição pelo lugar como uma função do tempo e o lugar como tempo
tornado visível. Se o tempo for concebido como fluxo ou movimento, o lugar é a pausa.
Texto 4: MEDEIROS, Rosa Maria Vieira. Território, espaço de identidade In:
SAQUET, Marcos Aurelio; SPOSITO, Eliseu S. (org.). Territórios e territorialidades:
teorias, processos e conflitos. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular: UNESP. Programa
de Pós-Graduação em Geografia, 2008. p. 17-36.
Rosa Maria Vieira Medeiros possui graduação em Geografia pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (1978) onde atualmente é professora associada. Atua na área da
Geografia com enfoque na Geografia Agrária nos temas referentes à processos de
desterritorialização e reterritorialização; alternativas de re-produção social, política e
econômica em assentamentos de Reforma Agraria e de atingidos por barragens;
sustentabilidade na agricultura; vitivinicultura; espaço agrário e suas relações com a
cultura e o turismo; memória, patrimônio e sustentabilidade.
Em seu artigo discute os conceitos de território, territorialidade e identidade. A autora
de fato inicia seu discurso afirmando “território é um espaço de identidade”, um
espaço de identificação. Traz a visão de Bonnemaison (2000) que identifica o território
como sendo um lugar de junção entre a humanidade e a cultura. A partir disso, tem-se
território também como espaço político e de luta, reunindo indivíduos com uma mesma
identidade, cultura e sentimento. Portanto, o território antes de ser uma fronteira (seja
ela física - limitado por espaços vazios - ou delimitada por linhas imaginárias) é um
lugar. As fronteiras territoriais elas são importantes pois delimitam o espaço de
sobrevivência, de luta, de vida de um povo que o pode defender, negociar, almejar e
sonhar. Com isso, observa-se duas fortes características para território: ele sendo como
poder político e como identidade cultural. A autora cita Haesbaert (1997) quanto à
distinção entre os dois pontos, afirmando que o território, apesar de poder possuir um
certo controle político, é antes uma apropriação simbólica, de identidade e afetiva.
Para aplicação e exemplificação desses conceitos, a autora remete aos assentamentos
rurais de Reforma Agrária no Brasil, muitos deles ocupados pelo Movimento dos
trabalhadores rurais Sem Terra (MST). Territórios com fronteiras delimitadas e com
uma forte apropriação simbólica de uma filosofia de vida e de luta por uma causa em
comum a todos no movimento: o acesso à terra e a reforma agrária no país. Sendo
assim, a terra é sonhada e almejada, a fim de concretizar a sua conquista por meio da
luta. Assim, Rosa afirma que o entendimento deste território (o assentamento rural) se
dá a partir da compreensão de identidade e territorialidade, sendo assim a autora cita
Raffestin (1993) o qual afirma que a territorialidade reflete uma dimensão múltipla
vivida pelos indivíduos de um mesmo grupo, os quais passam pelo processo territorial
ao mesmo tempo que pelo produto territorial, por meio das relações sociais e de
produção. Sendo assim, o assentamento é um território formado por pessoas que estão
motivadas e engajadas na luta pela terra, que estão unidas pela identidade de ser um
sem-terra e que possuem um objetivo comum que é de fato a busca e conquista dessa
terra. O território dos assentamentos rurais possui forte conjunto de simbologias que são
produzidas pelas ações dos grupos de cada território de assentamento e que por sua vez
se multiplicam e formam mais simbologias.
Tendo em vista a multiplicidade no processo de construção de um território, Medeiros
cita Milton Santos o qual afirma que o espaço é um conjunto de mercadorias que
possuem valores determinados pela sociedade. A identidade do MST ela possui essa
multiplicidade no âmbito da produção do solo, das trocas, na organização do trabalho
enquanto que a unidade da identidade do grupo se encontra no sócio político.
Quanto ao conceito de cultura, a autora traz as ideias de Claval (2001) o qual aponta que
a cultura é uma somatória de comportamentos, saberes, técnicas acumuladas pelos
indivíduos e pelo grupo em si. A cultura nos assentamentos rurais vem se constituindo
ao longo do tempo e vai continuar somando-se no modo de vida camponês,
manifestando crenças e atitudes a partir disso.
Por fim, a autora aborda o conceito de paisagem como sendo o cenário revelador das
inter-relações sociais e tendo a construção de uma nova territorialidade presente nessa
paisagem que
Texto 5: RAFFESTIN, Claude. A produção das estruturas territoriais e sua
representação. In: SAQUET, Marcos Aurelio; SPOSITO, Eliseu S. (org.). Territórios e
territorialidades: teorias, processos e conflitos. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular:
UNESP. Programa de Pós-Graduação em Geografia, 2008. p. 17-36.
O texto do geógrafo suíço Claude Raffestin traça inicialmente um estudo histórico da
formação dos territórios, a partir da Grécia Antiga, e posteriormente estabelece um
modelo para compreender os processos territoriais. No primeiro, o autor estabelece uma
discussão acerca dos conceitos de ambiente, território e paisagem. Para ele, ambiente é a
matéria-prima, trabalhada pelo homem, para produzir o território, que dependendo do
observador poderá se tornar paisagem. Discutindo sobre a formação agrícola dos
territórios da antiguidade, por exemplo, Raffestin diz que estes não eram vistos como
paisagem, já que tinham um viés útil e não estético. Ele define que os territórios são
criados como uma simbiose entre o mundo agrícola e urbano, e que este fator levou à
crise das cidades e ao fim do império romano ocidental. A partir deste ponto, são
relatados pontos importantes para evolução dos territórios desde o crescimento das
cidades durante a idade média, as invasões mouras, o renascimento e a autonomia das
cidades, a crise agrícola dos séculos XIV e XV, chegando à conclusão de que a
construção dos territórios foi influenciada não somente pelas atividades agrícolas, mas
também pelas políticas, pelas transformações das cidades e pelas mudanças nos hábitos
de consumo.
A ideia da construção da paisagem posterior à delimitação do território muda com a
acentuação urbanística da revolução industrial, já que os projetos urbanísticos passam a
propor uma imagem que é tornada território somente na concretização do projeto, sendo
então a imagem definida antes do território em si. Adicionalmente, o período industrial
e das grandes guerras apresentam outras alterações nos processos territoriais, visíveis na
centralização e verticalização das cidades e na alteração de ritmo das cidades devido ao
desenvolvimento dos transportes. Por fim, no mundo atual, Raffestin diz que os
territórios se transformam de acordo com as novas técnicas tanto na cidade quanto no
campo. O homem contemporâneo pode criar tudo que deseja, até paisagens-territórios, e
seus processos de territorialização tem relação direta com problemas ambientais. Cada
mudança de territorialidade impacta a produção territorial, e assim os problemas
ambientais ficam cada vez mais diversos.
A territorialização vem da apropriação concreta ou abstrata do espaço pelo ator social.
Para compreender este processo, Raffestin elabora uma fórmula cujos elementos são o
ator que age sobre o espaço, seu programa (suas intenções e objetivos no território), o
trabalho à sua disposição (em termos de energia e informação), os mediadores materiais
e instrumentos, a relação do ator com o ambiente, o ambiente orgânico e o ambiente
social, o território produzido e a territorialidade. Os fatores do ator e sua relação com o
ambiente produzem então a territorialidade. Esta fórmula é ajustada com a questão da
herança temporal do território, que sempre deve ser levada em consideração. Por fim, o
autor conclui que o território é um sistema material pois é construído com valor de uso,
e que quando sua parte material intersecciona o observador, é formada a paisagem.
Texto 6: SAQUET, Marcos Aurelio. Por uma abordagem territorial. In: SAQUET,
Marcos Aurelio; SPOSITO, Eliseu S. (org.). Territórios e territorialidades: teorias,
processos e conflitos. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular: UNESP. Programa de
Pós-Graduação em Geografia, 2008. p. 73-94.
O texto de Marcos Saquet busca, através de um apanhado de referenciais teóricos,
estabelecer conceitos relacionados a território e territorialidade, estabelecendo relações
com o espaço e a paisagem, buscando construir “uma abordagem histórica, relacional e
multidimensional-híbrida” destes conceitos. O autor destaca, primeiramente, o
movimento da geografia dos anos 60 e 70, com predominância do materialismo
histórico e dialético, que resultou em uma abordagem múltipla do território,
considerando suas dimensões sociais pela primeira vez e incorporando a natureza da
territorialização.
Um primeiro debate surge ao apresentar, no contexto Brasileiro pós anos 90, o conceito
de espaço como objeto hegemônico de estudo da geografia. Saquet elucida que território
e espaço são dois níveis e processos socioespaciais distintos, e dois conceitos diferentes
do pensamento científico. Para exemplificar, ele traz a visão de dois autores, Miltons
Santos e Claude Raffestin, que diferem sobre a relação espaço-território. Para o
primeiro, o espaço é o objeto principal da geografia, e o conceito de território é
subjacente, ditado por variáveis como produção, firmas, instituições, fluxos, trabalhos,
etc. Para este autor, o território é um recorte do espaço geográfico, mas está dentro dele,
não sendo separáveis. Já Raffestin transforma o espaço no substrato para o território, ou
seja, o último germina do primeiro, sendo construído por meio de uma apropriação do
espaço, que é transformado historicamente pelas sociedades, assim como a
territorialidade. Raffestin define o território como principal objeto de estudo da
geografia, e se torna resultado das territorialidades efetivadas pelo homem, em uma
relação sociedade-espaço-tempo. Saquet menciona Massimo Quaini e Giuseppe
Dematteis como autores que reforçam esta relação recíproca e unitária entre os
processos espaço-temporais como base para construção de qualquer território.
Saquet então define o território como uma construção coletiva e multidimensional, com
múltiplas territorialidades, que é diferenciado do espaço por três características
principais: as relações de poder, as redes e as identidades. Adicionalmente, ressalta
também a simultaneidade de temporalidades e territorialidades vividas no cotidiano,
resultando em um processo constante de territorialização, desterritorialização e
reterritorialização (TDR) que gera sempre novos territórios e territorialidades com
traços dos antigos territórios e territorialidades. Assim, elaborando mais sobre a
dicotomia espaço-território, o autor estabelece três processos de diferenciação: as
relações de poder num campo econômico, político e cultural; a construção histórica e
relacional de identidades e os processos de TDR.
Neste ponto, o autor destaca que a diferenciação entre ambos conceitos é tênue, e que
definí-los especificamente é uma questão epistemológica, ontológica e política. Ele
destaca que reconhecer características de heterogeneidade e homogeneidade do real é
fundamental para ter-se uma concepção histórico-crítica e renovada de território e
territorialidade. Para este último conceito, Saquet traz adicionalmente a visão de dois
autores, Robert Sack, que define territorialidade como a ações humanas de um
indivíduo ou grupo para controlar, influenciar ou afetar objetos, pessoas e relações em
uma área delimitada, sendo esta o território, e define comunicação, controle e
classificação do território como as principais facetas da territorialidade; e Giuseppe
Dematteis, que compreende a territorialidade como mediação simbólica, cognitiva e
prática que a materialidade dos lugares exercita nas ações sociais, ou seja, é dependente
da valorização de condições e recursos materiais do território em processo de
desenvolvimento (o que ele chamou de territorialidade ativa), concretizado por
organização política ou planejamento participativo. Para este último, a territorialidade
confere identidade ao lugar.
NOÇÕES/CONCEPÇÕES AUTORES:
AMBIENTE
RAFFESTIN: “O ambiente constitui a matéria-prima sobre a qual
o homem trabalha, socialmente, para produzir o território que
resulta, eventualmente, mais tarde, por intermédio da observação,
em uma paisagem”.
TERRITÓRIO
RAFFESTIN: “pois, evidente como a construção dos territórios foi
muito influenciada, não somente pelas atividadesagrícolas mas
também pelas políticas, pelas transformações das cidades e pelas
mudanças dos hábitos de consumo”
“O território é resultado das territorialidades efetivadas pelos
homens, naquilo que Raffestin (1993/1980) denomina de conjunto
de relações do sistema tridimensional sociedade-espaço-tempo.”
. Diferentemente de Milton Santos,Claude Raffestin não recorta o
espaço, mas transforma-o em substrato para a “criação” do
território.
MILTON SANTOS (por SAQUET): “o conceito de território é
subjacente, composto por variáveis, tais como a produção, as
firmas, as instituições, os fluxos, os fixos, relações de trabalho etc.,
interdependentes umas das outras”
“Milton Santos recorta o espaço em territórios sem separá- los, isto
é, os territórios estão no espaço geográfico”
“O território é chão e mais a população, isto é, uma identidade, o
fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O
território é a base do trabalho, da residência, das trocas materiais e
espirituais e da vida, sobre os quais ele influi. Quando se fala em
território deve-se, pois, de logo, entender que se está falando em
TERRITÓRIO USADO*, utilizado por uma dada população”.
*TERRITÓRIO USADO: conceito da geografia. Todo território
tem UMA HISTÓRIA, um povo, alguém que habita ali. Sempre
lembrar disso.
ROSA M. MEDEIROS (por SAQUET): Território é uma parcela
do espaço que abarca uma mesma identidade e que reúne indivíduos
com o mesmo sentimento.
“O território de um assentamento é constituído por um grupo de
pessoas que vivem no mesmo espaço e que lá vivem não por se
identificarem, mas porque se engajaram em um movimento cuja
identidade comum é ser sem-terra e cujo objetivo comum é a busca
da terra.”
Território dos assentamentos produz seus próprios símbolos que
geram ações que reforçam e multiplicam os símbolos em si.
HAESBAERT (1997): Território é LUGAR antes de ser
FRONTEIRA. É instrumento do poder político e da identidade
cultural (dimensão simbólica, identitária e AFETIVIDADE).
YU-FU TUAN: O autor afirma que os animais tem noção de
território e de lugar, mas entende que as pessoas correspondem ao
espaço e lugar de maneiras complexas, diferentes das existentes no
reino animal.
TERRITORIALIDADE
RAFFESTIN:
“a cada mudança de territorialidade, a produção
territorial é alterada e os problemas a serem enfrentados com
relação ao ambiente são mais diversos”
“A territorialidade é compreendida como relacional e dinâmica,
mudando no tempo e no espaço, conforme as características de cada
sociedade.”
SAQUET: “A territorialidade, dessa forma, significa as relações
sociais simétricas ou dessimétricas que produzem historicamente
cada território”
“A territorialidade é um fenômeno social que envolve indivíduos
que fazem parte do mesmo grupo social e de grupos distintos. Nas
territorialidades, há continuidades e descontinuidades no tempo e no
espaço; as territorialidades estão intimamente ligadas a cada lugar:
elas dão-lhe identidade e são influenciadas pelas condições
históricas e geográficas de cada lugar.”
SACK (POR SAQUET): “A territorialidade corresponde às ações
humanas, ou seja, à tentativa de um indivíduo ou grupo para
controlar, influenciar ou afetar objetos, pessoas e relações numa
área delimitada. Esta área é o território e, para Robert Sack, pode
acontecer que ocorra o não-território, onde não há delimitação e
efetivação de relações de controle e influência por certa autoridade”
Comunicação, controle e classificação de áreas são as três facetas
principais da territorialidade humana que depende, diretamente, da
atuação de certa autoridade e do contexto social e histórico de cada
grupo social.
DEMATTEIS (POR SAQUET): A territorialidade também pode
ser compreendida como mediação simbólica, cognitiva e prática que
a materialidade dos lugares exercida nas ações sociais. A
territorialidade é entendida como valoização das condições e
recursos potenciais de contextos territoriais em processos de
desenvolvimento, o que pode ser traduzido numa territorialidade
ativa, que pode ser concretizada através da organização política e do
planejamento participativo. A territorialidade é um fenômeno social
que envolve indivíduos que fazem parte do mesmo grupo social e de
grupos distintos.
Nas territorialidades, há continuidades e descontinuidades no tempo
e no espaço; as territorialidades estão intimamente ligadas a cada
lugar: elas dão- lhe identidade e são influenciadas pelas condições
históricas e geográficas de cada lugar.
ROSA M. MEDEIROS (por SAQUET): “...criar-se-á uma
subjetividade, uma identidade com aquele espaço construindo assim
através da sua apropriação, UMA TERRITORIALIDADE.”
TERRITÓRIO/ESPAÇO
RAFFESTIN: “É fundamental entender como o espaço está em
posição que antecede ao território, porque este é gerado a partir do
espaço, constituindo o resultado de uma ação conduzida por um ator
que realiza um programa em qualquer nível.”
SAQUET: “...espaço e território são dois níveis diferentes da
organização sócio-espacial.”
“O território é uma construção coletiva e multidimensional, com
múltiplas territorialidades diferenciando o território do espaço
geográfico a partir de três características principais: as relações de
poder, as redes e as identidades”
“diferenciar minimamente o território do espaço. Para nós,
sucintamente, há pelo menos três processos que, ontologicamente,
estão na base desta diferenciação: a) as relações de poder numa
compreensão multidimensional, constituindo campos de força
econômicos, políticos e culturais ([i-] materiais) com uma miríade
de combinações; b) a construção histórica e relacional de
identidades; c) o movimento de territorialização, desterritorialização
e reterritorialização”
“a diferenciação entre território e espaço, no real, é muito tênue e
dificulta nossas leituras e conceituações no nível do pensamento”.
PAISAGEM/TERRITÓRIO
RAFFESTIN: “Os homens, cotidianamente, não constroem a
paisagem, mas o território, que poderá, talvez, tornar-se paisagem.
Até há pouco tempo os produtores de território não tinham
consciência de que eram “produtores” de paisagem”
“a urbanística propõe uma imagem que é tornada território através
da concretização do projeto. A imagem, em tal caso, tornou-se mais
importante que o objeto!”
TERRITORIALIZAÇÃO/DESTERRITORIALIZAÇÃO/RETERRITORIALIZAÇÃO
RAFFESTIN: “Devemos ter consciência de que a transformação da
atividade humana e por conseqüência, dos processos de
territorialização corresponde a outro modo de compreender as
coisas degradadas na natureza”
“Apropriando-se concretamente ou abstratamente (por exemplo,
através da representação) de um espaço, o ator o “territorializa”.
“Na produção territorial sempre tem um ponto de partida que nunca
é ileso das ações do passado. O processo territorial desenvolve-se
no tempo, partindo sempre de uma forma precedente, de outro
estado de natureza ou de outro tipo de território”.
MILTON SANTOS (o espaço do cidadão): “O território em que
vivemos é mais que um simples conjunto de objetos, mediante os
quais trabalhamos, circulamos, moramos, mas também um dado
simbólico. A linguagem regional faz parte desse mundo de
símbolos, e ajuda a criar esse amálgama, sem o qual não se pode
falar de territorialidade.” (p.82)
LUGAR/NÃO LUGAR
AMÍLCAR DE GIL E PIRES: O autor traz a noção de Lugar
através de uma perspectiva poética como um processo de criação
relacional do arquiteto com o sítio. Pires se utiliza do termo “genius
loci” para definir a existência de um caráter ou de uma essência
expressos no Lugar através de sua linguagem arquitetônica. (p.6)
Compara o Lugar ao “pequeno cosmos” de Norberg-Schulz como
um sistema de lugares, para o qual é necessário que captem o seu
“genius”. (p.6)
“Para além de marcar uma posição no espaço, o Lugar afirma-se
sobretudo pela sua autonomia cultural, que é reconhecida tanto
pelas vivências que propicia como pelo caráter físico dos elementos
constituintes do seu espaço- Arquitetura, elementos naturais e
ambientais.” (p.7)
Segundo Pires o projeto de Lugar é resultante de relações:
Relação da Arquitetura com o Lugar- “O lugar, cada lugar, não é um
espaço indiferenciado, existem pontos singulares em cada sítio que
lhe dá origem, que são identificados de modos diversos”.
Relação Intencional da Arquitetura com a Natureza- “Oposição ao
racionalismo modernista, em função da experiência sensorial e
corporal do homem que habita o seu espaço.”
Relação Lugar e História- “O sítio pode ser destruído, reformado ou
transformado- perspectiva fenomenológica e poética.”
“Se o sítio está entre lugares, sem ser realmente um lugar, pode
tornar-se num lugar, pelo menos para seus futuros habitantes.” (p.7)
MARC AUGÉ: Os “não lugares” em oposição ao lugar
antropológico, que é “princípio de sentido para aqueles que o
habitam”. (p.55)
“Se um lugar pode se definir como identitário, relacional e histórico,
um espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como
relacional, nem como histórico definirá um não-lugar” (p.73).
Afirma que, na supermodernidade, o encolhimento do mundo e a
superabundância do espaço levam à produção de “não lugares”,
como “instalações necessárias à circulação acelerada das pessoas e
bens” (aeroportos, rodoviárias, salas de espera, estações de metrô),
os meios de transporte (aviões, trens de grande velocidade), os
grandes centros comerciais (hipermercados, shoppings) e ainda os
campos de trânsito prolongado (campo de refugiados) (p.36).
“Na realidade concreta do mundo de hoje, os lugares e os espaços,
os lugares e os não lugares misturam-se, interpenetram-se” (p. 98)
YU-FU TUAN: “O lugar é segurança e o espaço é liberdade:
estamos ligados ao primeiro e desejamos o outro”.
“O espaço transforma-se em lugar à medida que adquire definição e
significado”. (p.15)
"Quando o espaço nos é inteiramente familiar, torna-se lugar".
(p.16)
Tuan define os lugares como “centros aos quais atribuímos valor e
onde são satisfeitas as necessidades biológicas de comida, água,
descanso e procriação” (p.17).
LUGAR/ESPAÇO
YU-FU TUAN: Tuan faz uma análise dos conceitos de espaço e
lugar a partir de uma perspectiva experiencial; ele busca o
entendimento desses conceitos a partir da relação sensível entre o
indivíduo e os meios. Segundo o autor, o que entendemos como
espaço acaba por se transformar em lugar ao passo que o
reconhecemos e o significamos.
“O Espaço é um símbolo comum de liberdade no mundo ocidental.
O espaço permanece aberto; sugere futuro e convida a ação. Do lado
negativo, espaço e liberdade são uma ameaça. [...] Ser aberto e livre
é estar exposto e vulnerável. O espaço aberto não tem caminhos
trilhados nem sinalização. Não tem padrões estabelecidos que
revelem algo, é como uma folha em branco na qual se pode
imprimir qualquer significado. O espaço fechado e humanizado é
lugar. Comparado com o espaço, o lugar é um centro calmo de
valores estabelecidos. Os seres humanos necessitam de espaço e de
lugar. As vidas humanas são um movimento dialético entre refúgio
e aventura, dependência e liberdade.” (TUAN, 1983, p.61)
Concepção do espaço: ele diz que o homem usa principalmente a
visão para organizar o espaço, enquanto os outros sentidos
enriquecem o espaço visual, por exemplo, o som dramatiza a
experiência no espaço. O espaço pode ser mítico, pragmático ou
abstrato (teórico). Já o lugar é um tipo de objeto. Lugares e objetos
definem o espaço.
O espaço é dado pela capacidade de mover-se.
Fases da vida: O primeiro lugar da criança é a mãe, pois apesar de
se mover, ela representa estabilidade (está sempre por perto quando
é necessária). Conforme a criança cresce, ela deixa de se apegar
tanto a pessoas e cria esse vínculo com objetos, desenvolvendo um
sentido de propriedade com seus brinquedos. Finalmente, ela passa
a se apegar a localidades.
AMÍLCAR DE GIL E PIRES: “Algumas definições de Lugar não
traduzem a vivência do espaço, o lugar é definido, com
regularidade, como uma posição de um corpo num determinado
espaço, pressupondo as relações entre corpos diferentes no espaço e
de si com o espaço global”
Crítica ao modelo de cidade contemporânea – revalorização da ideia
de lugar estreitamente relacionada à recuperação da história e da
memória.
MARC AUGÉ: “O termo espaço é mais abstrato do que o de
lugar, cujo emprego se refere a um mito (lugar dito) ou a uma
história (lugar histórico)” (p. 77).
Ex.: “espaço aéreo”, “espaço judiciário”, “espaço publicitário”. São
termos pertencentes à contemporaneidade: “imagem, liberdade,
deslocamento” (p. 78).
RAFFESTIN: “A nossa sociedade pode, bem ou mal, criar tudo o
que deseja, desde pequenos objetos às paisagens-territórios. Com a
informação à disposição, a sociedade atual tem necessidade de
matéria, de energia e de espaço como suporte. Nesse sentido, o
espaço volta a ser importante. O seu papel é, sobretudo, de
“estrutura que suporta” as ações humanas mais que de conteúdo
sensível, mesmo que tenha a ação de diversos movimentos
ecologistas que tentam proteger o espaço não somente como
estrutura, mas também como conteúdo”
RELAÇÃO CULTURAL, IDENTIDADE, PERTENCIMENTO (SOCIAL)/ RELAÇÃO DE CONSUMO
AMÍLCAR DE GIL E PIRES: “O movimento do homem acaba
por definir o caráter específico do lugar. É a sua apropriação pelos
diferentes usos e hábitos culturais que lhe confere a identidade.”
(p.8)
“O espaço arquitetônico corresponde a um lugar em particular que
reflete os diferentes níveis culturais que estão na sua base
conceitual, que contribuem decisivamente para a definição e
expressão da sua identidade e caráter formal.”
“Considera-se, assim, que para produzir um edifício o arquiteto
reflita sobre a identidade de um grupo - casa, edifício religioso ou
outros - a sua concepção tem que partir duma abordagem
interpretativa do Lugar, tem que reconhecer os símbolos de
Identidade e proporcionar a interação entre os utilizadores e os
diferentes espaços de pertença individual ou social.”
Um dos fatores que marca o lugar é a autonomia cultural,
reconhecida pelas vivências que o lugar propicia e pelo caráter
físico dos seus elementos.
O pertencimento a um lugar depende da afirmação de identidade do
indivíduo (como ser individual e como membro de um grupo).
A pessoa manifesta a sua identidade de duas formas: a identidade
privada e a identidade pública.
MARC AUGÉ: Augé afirma que as relações sociais estão
relacionadas aos Lugares enquanto as relações de consumo estão
relacionadas aos Não-lugares.
Espaço do não lugar “cria solidão e similitude” (p. 95).
“o vocabulário tece a trama dos hábitos, educa o olhar, informa a
paisagem” (p. 99).
“O social começa com o indivíduo” (p.24).
“As culturas jamais constituem totalidades acabadas (por razões
extrínsecas e intrínsecas): e os indivíduos, tão simples quanto os
imaginamos, nunca são o suficiente para não se situar em relação à
ordem que lhes atribui um lugar: só exprimem a sua totalidade de
certo ângulo” (p.26)
Sempre que há algum problema em uma ordem (guerras e revoltas),
existe alguma iniciativa individual atuando, não é fruto puramente
da cultura.
YU-FU TUAN: Segundo o autor, as pessoas atribuem significado e
organizam o espaço e o lugar através da cultura.
Dentro do campo do pertencimento, o autor também discorre sobre
o patriotismo. Segundo ele, a afeição pela pátria é uma emoção
humana comum, e a sua intensidade varia em diferentes culturas e
períodos históricos.
Relação entre o Projeto de Pesquisa e a Disciplina:
Dagmar Dias Cerqueira
Título: Escolas padronizadas em steel frame: avaliação pós-ocupação e propostas para
intervenções em tempos pós-pandêmicos.
Orientação: Prof. Dr.ªGiselle Azevedo
Grupo de pesquisa: GAE
A pesquisa trata da análise da arquitetura escolar padronizada em aço a partir da
perspectiva de seus usuários (comunidade escolar). Caracteriza-se por um Estudo de
Caso, utilizando como uma das técnicas de pesquisa a Avaliação Pós-Ocupação.
Questão Central:
● Como a produção padronizada de arquitetura escolar pode ser
potencializada, segundo a comunidade escolar, no sentido de uma escola
cidadã?
A hipótese está norteada na afirmação de que a partir do diálogo com a comunidade
escolar, expondo suas expectativas e necessidades em prol de uma escola cidadã, é
possível trazer contribuições à produção padronizada da arquitetura escolar.
Possíveis contribuições da disciplina:
● Análise das ambiências. (campo teórico e metodológico)
● Explorar o conceito de Território Educativo. (campo teórico)
● Explorar as subjetividades. (campo teórico e metodológico)
Vanessa Sartori Rodi
Título: Filosofia e integração de luta contemporânea através do desenho de espaços coletivos
em assentamentos rurais do MST no Rio de Janeiro.
Orientação: Prof. Dr. Rubens de Andrade
Grupo de pesquisa: ProLUGAR
A pesquisa visa analisar o desenho dos espaços coletivos/públicos nos assentamentos
rurais do MST, a fim de identificar como a arquitetura reforça e reflete a identidade e
filosofia do movimento. Sendo assim, os textos abordados na disciplina foram de muita
riqueza para a construção de embasamento teórico da pesquisa, principalmente os que
se referem ao eixo 7 de território e territorialidades, onde diversos conceitos como
identidade, território e cultura são discutidos por diversos autores.
Lucas Yudi Moriya Sampaio
Título: Os sons do espaço público carioca: Ocupações, Manifestações, Conflitos e Estratégias
de Projeto
Orientação: Profa. Dra. Andrea Queiroz Rego
Grupo de pesquisa: PROAMB
A tese proposta tem como questão central como perceber, interpretar, analisar e
requalificar o ambiente acústico do espaço público urbano por meio da abordagem da
paisagem sonora no cenário do Rio de Janeiro como metrópole de país emergente. Neste
âmbito, lida-se muito com a questão do território, ao passo que conflitos surgem entre
manifestações e ocupações que disputam o espaço sonoro, caracterizando
territorialidades sonoras por parte de grupos ou atores sociais distintos.
Beatriz Cruz Amback
Título: Diretrizes para a implantação de técnicas compensatórias em Drenagem Urbana
Sustentável em Espaços Livres Urbanos na Bacia Hidrográfica do Canal do Mangue
Orientação: Prof. Aline Pires Veról
Grupo de pesquisa: PROAMB
A pesquisa trata da requalificação de Espaços Livres integrada ao sistema de manejo de
águas pluviais na área compreendida pela Bacia Hidrográfica do Canal do Mangue. O
trabalho busca diretrizes para a incorporação de infraestrutura de Drenagem Urbana
Sustentável em espaços multifuncionais. A base teórica do trabalho busca resgatar o
conceito de Sistema de Espaços Livres, que permeia as noções de lugar, território,
territorialidade, paisagem, ambiente, entre outros conceitos que estão sendo discutidos
ao longo da disciplina.
Possíveis contribuições:
● Embasamento teórico, trazendo visões de diferentes autores a respeito de
conceitos aplicáveis à pesquisa.
● Entendimento da relação das pessoas com o lugar, auxiliando projetos
urbanísticos para que criem um vínculo afetivo da população com a cidade
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