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Pensando as Ambiências pela Subjetividade
Penser les Ambiances à travers de la Subjectivité
Curso de Extensão VI Edição
06 de Maio - 08 de Julho, 2021

Cours d'Extension VI Édition
06 Mai - 08 Juillet, 2021

REPOSITÓRIO

"Arquitetura, Subjetividade e Cultura: Pensando ambiências pela subjetividade" foi um momento valioso de trocas e aprofundamento nas noções de alteridade, identidade e memória, em especial na prática e na pesquisa em Arquitetura e Urbanismo. Em 2021, a modalidade remota permitiu o intercâmbio com nossos parceiros nacionais e internacionais. Confira aqui neste repositório os fichamentos e ensaios produzidos pelos participantes do curso ou assista aos vídeos completos das palestras.

EIXO 7: Território e Territorialidade

Por Dagmar Dias Cerqueira, Beatriz Cruz Amback, Lucas Yudi Moriya Sampaio, Vanessa Sartori Rodi, Ilana Sancovschi, Heloísa Dallari.


Texto 1: AUGÉ, Marc. Não Lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. RJ:

Ed. Papirus, 2016.


Marc Augé inicia o livro, escrito em 1995, debatendo sobre os trabalhos dos

Antropólogos e dos Etnólogos relativos à proximidade e ao distanciamento em suas

pesquisas. Para ele, a pesquisa antropológica, no presente, trata da questão do outro, o

outro exótico em relação ao “nós”, étnico ou cultural (pág. 22). Essa afirmação se deve

ao fato de que existem três transformações, no mundo contemporâneo, que chamam o

olhar antropológico para uma renovada e metódica reflexão sobre a categoria alteridade:

a aceleração da história (percepção do tempo), que determina uma superabundância

factual (pág. 32); o encolhimento do planeta determinando uma superabundância

espacial (pág. 32) e a superabundância do ego, perceptível pela excessiva

individualização das referências e atenção às singularidades (pág. 38). Augé propõe o

descentramento do olhar para esse novo mundo que ele chama de supermodernidade.


Afirma que, na supermodernidade, o encolhimento do mundo e a

superabundância do espaço levam à produção de “não lugares”, como “instalações

necessárias à circulação acelerada das pessoas e bens” (aeroportos, rodoviárias, salas de

espera, estações de metrô), os meios de transporte (aviões, trens de grande velocidade),

os grandes centros comerciais (hipermercados, shoppings) e ainda os campos de trânsito

prolongado (campo de refugiados) (p.36).


O autor afirma que o lugar do etnólogo e dos indígenas é uma invenção e que o

dispositivo espacial exprime a identidade do grupo, mas é a identidade do lugar que o

funda, congrega e une: “As divisas de território e identidade são ilusórias e se apagam

quando os jovens vão embora” (pág. 48). O objeto do etnólogo, segundo ele, são as

sociedades precisamente localizadas no espaço e tempo.


Na pág.55, Augé traz a concepção de que o lugar antropológico é

simultaneamente princípio de sentido para aqueles que o habitam e princípio de

inteligibilidade de quem o observa, e está além da construção concreta e simbólica do

espaço. Afirma que é geométrico expresso através de três formas: linha, intersecção de

linhas e ponto de intersecção. Além disso, apresenta uma carga de história, de passado,

de relações sociais, de pleno sentido.


O autor se utiliza da definição de que se um lugar é identitário, relacional e

histórico; a negação desses elementos caracteriza um não lugar (pág.73). Para Augé, a

distinção entre lugares e não lugares passa pela oposição do lugar ao espaço, esse

espaço a que ele se refere é o de Michel de Certeau, um “lugar praticado”, de

“cruzamento de forças motrizes em deslocamento” (pág. 75). O lugar de Augé é o lugar

de sentido inscrito e simbolizado, o lugar antropológico (pág.76). A noção de espaço

utilizada hoje é de espaço aéreo, ou, para estereotipar instituições de hotelaria ou lazer,

com ausência de caracterização, às superfícies simbólicas do planeta. Espaço, segundo o

autor, é um termo abstrato em si mesmo e que se aplica a uma extensão, a uma distância

entre duas coisas, ou dois pontos, ou uma grandeza temporal. O espaço como prática

dos lugares e não dos não lugares (pág.81).


Augé designa por não-lugar duas realidades complementares: espaços

constituídos para certos fins (transporte, trânsito, comércio, lazer) e a relação que os

indivíduos mantêm com esses espaços. Para o autor, os lugares antropológicos criam um

social orgânico enquanto os não-lugares criam tensão solitária (pág.87). Sendo assim,

Augé atribui ao não-lugar uma relação de consumo definida por palavras ou textos

prescritivos, proibitivos ou informativos (pág.89), um “contrato” simbólico (passagem,

pedágio, carrinho de supermercado) e com unidades de medição de percursos através do

tempo (chegada, partida, horários) (pág. 94). O não-lugar existe e não abriga nenhuma

sociedade orgânica. Seus indivíduos são definidos como clientes, passageiros, usuários,

ouvintes (pág.101).


O autor salienta que existe, em escala mundial, a tensão entre o pensamento

universal e territorial, e constata que uma parte crescente da humanidade vive, pelo

menos em tempo parcial, fora do território. A partir de um exemplo de voo na Arábia

Saudita, destaca que existe uma intrusão do território no espaço expressa pela equação

do lugar antropológico (terra=sociedade=nação=cultura=religião) (pág.107) e que se

inscreve fugidiamente no espaço.


Marc Augé alerta para que o etnólogo se atente a não perder de vista nem o lugar

imediato de sua observação, nem as fronteiras pertinentes a seus limites exteriores para

não correr o risco de cometer o estrabismo metodológico (pág.108). Encerra o livro

afirmando que é no anonimato do não-lugar que se experimenta solitariamente a

comunhão dos sentidos humanos (pág.110).



Texto 2: PIRES, Amílcar de Gil. O entendimento poético do Lugar como um

Pequeno Cosmos – (Inter-relação Cultura-Paisagem-Arquitectura). in AR: Cadernos da

Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Nº 7. Fev. 2010.


O autor Amílcar de Gil e Pires traz a noção de Lugar através de uma perspectiva

poética como um processo de criação relacional do arquiteto com o sítio. Pires se utiliza

do termo “genius loci” para definir a existência de um caráter ou de uma essência

expressos no Lugar através de sua linguagem arquitetônica. Isto posto, a Arquitetura

deveria ser criada em conformidade com a tradição configurada em cada Lugar no

decorrer de sua história particular. O autor o Lugar ao “pequeno cosmos” de

Norberg-Schulz, como um sistema de lugares, sendo necessário que se capte o seu

“genius” (pág.6); este definido como “espírito”, ou seja, “o mundo de objetos reunidos

essencialmente em um Lugar”.


O arquiteto português afirma que o Lugar está para além de marcar uma posição

no espaço, pois afirma-se sobretudo pela sua autonomia cultural, que é reconhecida

tanto pelas vivências que propicia como pelo caráter físico dos elementos constituintes

do seu espaço-arquitetura, elementos naturais e ambientais (pág.7)


Segundo Pires o projeto de Lugar é resultante de relações:

● Relação da Arquitetura com o Lugar- “O lugar, cada lugar, não é um

espaço indiferenciado, existem pontos singulares em cada sítio que lhe dá

origem, que são identificados de modos diversos”.

● Relação Intencional da Arquitetura com a Natureza- “Oposição ao

racionalismo modernista, em função da experiência sensorial e corporal

do homem que habita o seu espaço.”

● Relação Lugar e História- “O sítio pode ser destruído, reformado ou

transformado- perspectiva fenomenológica e poética.” (pág.7)


Pires reconhece que se um sítio está “entre lugares” pode vir a se tornar um

lugar, pelo menos para seus futuros habitantes. Salienta que algumas definições de lugar

não traduzem a vivência do espaço, o lugar é definido, com regularidade, como uma

posição de um corpo num determinado espaço, pressupondo as relações entre corpos

diferentes no espaço e de si com o espaço global. Se apoia em Montaner para sublinhar

que a revalorização da ideia de lugar perpassa pela recuperação da história e da

memória, contrariando o estilo/anti-estilo internacional das cidades contemporâneas

(pág. 8).


O autor salienta que “o movimento do homem acaba por definir o caráter

específico do lugar. É a sua apropriação pelos diferentes usos e hábitos culturais que lhe

confere a identidade” (pág.8). Em consequência, “o espaço arquitetônico corresponde a

um lugar em particular que reflete os diferentes níveis culturais que estão na sua base

conceitual, que contribuem decisivamente para a definição e expressão da sua

identidade e caráter formal” (pág.8).


Pires propõe que na elaboração do projeto de arquitetura seja adotada uma

perspectiva fenomenológica e poética na abordagem do sítio, interpretando seu caráter

original, tornando o desenho o instrumento racionalizado para a transformação do lugar

(pág.8). Afirma que para conceber um edifício o arquiteto deve refletir sobre a

identidade de um grupo, partindo de uma abordagem interpretativa do lugar,

reconhecendo os símbolos de Identidade e proporcionando a interação entre os

utilizadores e os diferentes espaços de pertença individual ou social (pág. 9). O autor

afirma que tanto o conceito de “identidade privada” quanto o de “identidade pública”

devem ser considerados no processo do projeto arquitetônico, cabendo descobrir os

meios que permitam sua comunicação.


Assim, Pires conclui que o arquiteto deve partir da interpretação do Lugar.

Reconhecer aí símbolos de identidade que o auxiliem a projetar um edifício que esteja

em conformidade e consonância com um determinado grupo, de maneira a gerar uma

interação satisfatória entre usuários e os diferentes espaços de pertencimento individual

ou social. O espaço arquitetônico ganha validade quando serve à vida no presente, ao

mesmo tempo em que é testemunha dos valores do Lugar para a sua História.



Texto 3: TUAN, Yi-Fu. Espaço e Lugar: A Perspectiva da Experiência. 1983.


Yi-Fu Tuan, geógrafo, nasceu em 5 de dezembro de 1930 na China. Os seus

estudos se deram em escolas chinesas, das Filipinas e da Australia. Seus estudos no

ensino superior se deram em Londres e na California. Antes de terminar seu

doutoramento, foi professor nas Universidades de Indiana e no Novo Mexico.


Posteriormente, foi professor na Universidade de Toronto, no Canadá, e em seguida

transferiu sua docência para Universidade de Minnesota, sempre dedicando-se a estudos

da geografia humanista. Depois Tuan foi para Madison, onde se aposentou na

Universidade de Wisconsin, onde é professor emérito. Em 2012 recebeu na França o

Prêmio “Vautrin Lud”, considerado o maior prêmio da área acadêmica da Geografia.

Tuan publicou livros importantes para a expansão da geografia humanista,

primeiro: “Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente”,

depois “Espaço e lugar: a perspectiva da experiência” e “Paisagens do medo”.


Publicado originalmente em 1977, a obra Espaço e Lugar: A Perspectiva da

Experiencia, de Yi Fu Tuan, traz importantes reflexões acerca dos modos de

relacionamento das pessoas com os espaços. Apesar da obra ter uma origem na

Geografia Humanista, ela revela importantes ligações com a antropologia, a psicologia,

literatura e arte, e a teologia, para além disso a obra vem sendo discutida por arquitetos

e urbanistas também.


Tuan inicia seu livro com a seguinte afirmação: “‘Espaço’ e ‘Lugar’ são termos

familiares que indicam experiências comuns.” (TUAN, 1983, p.3). Com isso o autor nos

coloca frente a frente com conceitos que parecem estar interiorizados e naturalizados

por nós. No entanto ele prossegue nos instigando a relativizar o entendimento desses

conceitos e coloca questionamentos básicos, como por exemplo “quais as relações entre

espaço e lugar?”; ou “que relações temos com estas entidades?”. Nesse sentido, Tuan

nos induz a questionar nossas próprias identidades e buscar a compreensão de como elas

interferem nos espaços.


Como o próprio título da obra anuncia, Tuan tem uma abordagem experiencial

em suas análises. O autor trabalha os conceitos de espaço e lugar a partir da vivência

sensível entre indivíduo e espaço, e afirma que estes conceitos se unem com frequência

uma vez que o que entendemos como espaço indefinido se transforma em Lugar ao

passo que o reconhecemos e o significamos.


Através da percepção corporal e de analogias a sensações experienciadas, o autor

compara Espaço e Lugar e atribui a eles valores distintos e por vezes contrários que se

mostram essenciais na experiência existencial humana. Enquanto o lugar representa a

segurança, o espaço é a liberdade, de modo que estamos ligados ao primeiro e

desejamos o outro. Segundo o autor, “O Espaço é um símbolo comum de liberdade no

mundo ocidental” (p.61). O espaço estaria associado por um lado, a abertura, ao futuro,

a ação; e por outro lado estaria também associado a exposição, a ameaça e a

vulnerabilidade. O espaço, de acordo com Tuan, não tem sinalização, não tem

definições. O espaço “é como uma folha em branco na qual se pode imprimir qualquer

significado” (p.61) Já o espaço fechado e humanizado é definido pelo autor como

Lugar, como centro calmo e com valores já estabelecidos e significados definidos. Tuan

coloca que a experiencia humana só é completa a partir dessa experiencia dialética entre

Espaço e Lugar, entre liberdade e dependência, entre aventura e refúgio.


O autor busca entender como a experiência do espaço e do lugar é formada ao

longo do desenvolvimento do indivíduo. Dessa forma, ele defende que a mãe é o

primeiro lugar de uma criança, pois apesar de se mover, ela representa estabilidade e

permanência. À medida que a criança cresce, ela passa a se apegar mais a objetos em

vez de pessoas e, finalmente, a localidades. Além disso, ele observa que uma criança

está mais preocupada com os objetos em si do que com a relação entre eles,

classificando as coisas somente com base nos contrastes maiores, de forma polarizada.


O autor também discorre sobre o papel no corpo no espaço, de modo que o

mundo pode ser percebido como o “corpo” mais “espaço”, sendo que o corpo é o vivo,

o receptáculo, e o espaço é a construção do homem. O autor estuda a experiência do

homem no espaço, a habilidade espacial que se transforma em conhecimento espacial.

Quando um espaço é inteiramente familiar a uma pessoa, ele adquire a característica de

lugar.


Outro ponto importante do livro é o conceito de patriotismo. O autor entende a

afeição pela pátria como uma emoção humana comum, e afirma que a sua intensidade

varia entre diferentes culturas e períodos históricos. A pátria é entendida como um

lugar, na concepção do autor.A religião desempenha um papel no patriotismo, podendo

vincular uma pessoa a um lugar ou libertá-la dele. No caso de culto a deuses locais, a

religião atua vinculando uma pessoa a uma localidade, enquanto religiões universais

promovem liberdade uma vez que consideram um Deus onipotente e onisciente,

tratando todas as localidades como igualmente sagradas.


O livro reflete a respeito do papel do tempo no lugar, e são exploradas três

abordagens: o tempo como movimento ou fluxo e o lugar como pausa na corrente

temporal, a afeição pelo lugar como uma função do tempo e o lugar como tempo

tornado visível. Se o tempo for concebido como fluxo ou movimento, o lugar é a pausa.



Texto 4: MEDEIROS, Rosa Maria Vieira. Território, espaço de identidade In:

SAQUET, Marcos Aurelio; SPOSITO, Eliseu S. (org.). Territórios e territorialidades:

teorias, processos e conflitos. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular: UNESP. Programa

de Pós-Graduação em Geografia, 2008. p. 17-36.


Rosa Maria Vieira Medeiros possui graduação em Geografia pela Universidade Federal

do Rio Grande do Sul (1978) onde atualmente é professora associada. Atua na área da

Geografia com enfoque na Geografia Agrária nos temas referentes à processos de

desterritorialização e reterritorialização; alternativas de re-produção social, política e

econômica em assentamentos de Reforma Agraria e de atingidos por barragens;

sustentabilidade na agricultura; vitivinicultura; espaço agrário e suas relações com a

cultura e o turismo; memória, patrimônio e sustentabilidade.


Em seu artigo discute os conceitos de território, territorialidade e identidade. A autora

de fato inicia seu discurso afirmando “território é um espaço de identidade”, um

espaço de identificação. Traz a visão de Bonnemaison (2000) que identifica o território

como sendo um lugar de junção entre a humanidade e a cultura. A partir disso, tem-se

território também como espaço político e de luta, reunindo indivíduos com uma mesma

identidade, cultura e sentimento. Portanto, o território antes de ser uma fronteira (seja

ela física - limitado por espaços vazios - ou delimitada por linhas imaginárias) é um

lugar. As fronteiras territoriais elas são importantes pois delimitam o espaço de

sobrevivência, de luta, de vida de um povo que o pode defender, negociar, almejar e

sonhar. Com isso, observa-se duas fortes características para território: ele sendo como

poder político e como identidade cultural. A autora cita Haesbaert (1997) quanto à

distinção entre os dois pontos, afirmando que o território, apesar de poder possuir um

certo controle político, é antes uma apropriação simbólica, de identidade e afetiva.


Para aplicação e exemplificação desses conceitos, a autora remete aos assentamentos

rurais de Reforma Agrária no Brasil, muitos deles ocupados pelo Movimento dos

trabalhadores rurais Sem Terra (MST). Territórios com fronteiras delimitadas e com

uma forte apropriação simbólica de uma filosofia de vida e de luta por uma causa em

comum a todos no movimento: o acesso à terra e a reforma agrária no país. Sendo

assim, a terra é sonhada e almejada, a fim de concretizar a sua conquista por meio da

luta. Assim, Rosa afirma que o entendimento deste território (o assentamento rural) se

dá a partir da compreensão de identidade e territorialidade, sendo assim a autora cita

Raffestin (1993) o qual afirma que a territorialidade reflete uma dimensão múltipla

vivida pelos indivíduos de um mesmo grupo, os quais passam pelo processo territorial

ao mesmo tempo que pelo produto territorial, por meio das relações sociais e de

produção. Sendo assim, o assentamento é um território formado por pessoas que estão

motivadas e engajadas na luta pela terra, que estão unidas pela identidade de ser um

sem-terra e que possuem um objetivo comum que é de fato a busca e conquista dessa

terra. O território dos assentamentos rurais possui forte conjunto de simbologias que são

produzidas pelas ações dos grupos de cada território de assentamento e que por sua vez

se multiplicam e formam mais simbologias.


Tendo em vista a multiplicidade no processo de construção de um território, Medeiros

cita Milton Santos o qual afirma que o espaço é um conjunto de mercadorias que

possuem valores determinados pela sociedade. A identidade do MST ela possui essa

multiplicidade no âmbito da produção do solo, das trocas, na organização do trabalho

enquanto que a unidade da identidade do grupo se encontra no sócio político.


Quanto ao conceito de cultura, a autora traz as ideias de Claval (2001) o qual aponta que

a cultura é uma somatória de comportamentos, saberes, técnicas acumuladas pelos

indivíduos e pelo grupo em si. A cultura nos assentamentos rurais vem se constituindo

ao longo do tempo e vai continuar somando-se no modo de vida camponês,

manifestando crenças e atitudes a partir disso.


Por fim, a autora aborda o conceito de paisagem como sendo o cenário revelador das

inter-relações sociais e tendo a construção de uma nova territorialidade presente nessa

paisagem que



Texto 5: RAFFESTIN, Claude. A produção das estruturas territoriais e sua

representação. In: SAQUET, Marcos Aurelio; SPOSITO, Eliseu S. (org.). Territórios e

territorialidades: teorias, processos e conflitos. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular:

UNESP. Programa de Pós-Graduação em Geografia, 2008. p. 17-36.


O texto do geógrafo suíço Claude Raffestin traça inicialmente um estudo histórico da

formação dos territórios, a partir da Grécia Antiga, e posteriormente estabelece um

modelo para compreender os processos territoriais. No primeiro, o autor estabelece uma

discussão acerca dos conceitos de ambiente, território e paisagem. Para ele, ambiente é a

matéria-prima, trabalhada pelo homem, para produzir o território, que dependendo do

observador poderá se tornar paisagem. Discutindo sobre a formação agrícola dos

territórios da antiguidade, por exemplo, Raffestin diz que estes não eram vistos como

paisagem, já que tinham um viés útil e não estético. Ele define que os territórios são

criados como uma simbiose entre o mundo agrícola e urbano, e que este fator levou à

crise das cidades e ao fim do império romano ocidental. A partir deste ponto, são

relatados pontos importantes para evolução dos territórios desde o crescimento das

cidades durante a idade média, as invasões mouras, o renascimento e a autonomia das

cidades, a crise agrícola dos séculos XIV e XV, chegando à conclusão de que a

construção dos territórios foi influenciada não somente pelas atividades agrícolas, mas

também pelas políticas, pelas transformações das cidades e pelas mudanças nos hábitos

de consumo.


A ideia da construção da paisagem posterior à delimitação do território muda com a

acentuação urbanística da revolução industrial, já que os projetos urbanísticos passam a

propor uma imagem que é tornada território somente na concretização do projeto, sendo

então a imagem definida antes do território em si. Adicionalmente, o período industrial

e das grandes guerras apresentam outras alterações nos processos territoriais, visíveis na

centralização e verticalização das cidades e na alteração de ritmo das cidades devido ao

desenvolvimento dos transportes. Por fim, no mundo atual, Raffestin diz que os

territórios se transformam de acordo com as novas técnicas tanto na cidade quanto no

campo. O homem contemporâneo pode criar tudo que deseja, até paisagens-territórios, e

seus processos de territorialização tem relação direta com problemas ambientais. Cada

mudança de territorialidade impacta a produção territorial, e assim os problemas

ambientais ficam cada vez mais diversos.


A territorialização vem da apropriação concreta ou abstrata do espaço pelo ator social.

Para compreender este processo, Raffestin elabora uma fórmula cujos elementos são o

ator que age sobre o espaço, seu programa (suas intenções e objetivos no território), o

trabalho à sua disposição (em termos de energia e informação), os mediadores materiais

e instrumentos, a relação do ator com o ambiente, o ambiente orgânico e o ambiente

social, o território produzido e a territorialidade. Os fatores do ator e sua relação com o

ambiente produzem então a territorialidade. Esta fórmula é ajustada com a questão da

herança temporal do território, que sempre deve ser levada em consideração. Por fim, o

autor conclui que o território é um sistema material pois é construído com valor de uso,

e que quando sua parte material intersecciona o observador, é formada a paisagem.



Texto 6: SAQUET, Marcos Aurelio. Por uma abordagem territorial. In: SAQUET,

Marcos Aurelio; SPOSITO, Eliseu S. (org.). Territórios e territorialidades: teorias,

processos e conflitos. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular: UNESP. Programa de

Pós-Graduação em Geografia, 2008. p. 73-94.


O texto de Marcos Saquet busca, através de um apanhado de referenciais teóricos,

estabelecer conceitos relacionados a território e territorialidade, estabelecendo relações

com o espaço e a paisagem, buscando construir “uma abordagem histórica, relacional e

multidimensional-híbrida” destes conceitos. O autor destaca, primeiramente, o

movimento da geografia dos anos 60 e 70, com predominância do materialismo

histórico e dialético, que resultou em uma abordagem múltipla do território,

considerando suas dimensões sociais pela primeira vez e incorporando a natureza da

territorialização.


Um primeiro debate surge ao apresentar, no contexto Brasileiro pós anos 90, o conceito

de espaço como objeto hegemônico de estudo da geografia. Saquet elucida que território

e espaço são dois níveis e processos socioespaciais distintos, e dois conceitos diferentes

do pensamento científico. Para exemplificar, ele traz a visão de dois autores, Miltons

Santos e Claude Raffestin, que diferem sobre a relação espaço-território. Para o

primeiro, o espaço é o objeto principal da geografia, e o conceito de território é

subjacente, ditado por variáveis como produção, firmas, instituições, fluxos, trabalhos,

etc. Para este autor, o território é um recorte do espaço geográfico, mas está dentro dele,

não sendo separáveis. Já Raffestin transforma o espaço no substrato para o território, ou

seja, o último germina do primeiro, sendo construído por meio de uma apropriação do

espaço, que é transformado historicamente pelas sociedades, assim como a

territorialidade. Raffestin define o território como principal objeto de estudo da

geografia, e se torna resultado das territorialidades efetivadas pelo homem, em uma

relação sociedade-espaço-tempo. Saquet menciona Massimo Quaini e Giuseppe

Dematteis como autores que reforçam esta relação recíproca e unitária entre os

processos espaço-temporais como base para construção de qualquer território.


Saquet então define o território como uma construção coletiva e multidimensional, com

múltiplas territorialidades, que é diferenciado do espaço por três características

principais: as relações de poder, as redes e as identidades. Adicionalmente, ressalta

também a simultaneidade de temporalidades e territorialidades vividas no cotidiano,

resultando em um processo constante de territorialização, desterritorialização e

reterritorialização (TDR) que gera sempre novos territórios e territorialidades com

traços dos antigos territórios e territorialidades. Assim, elaborando mais sobre a

dicotomia espaço-território, o autor estabelece três processos de diferenciação: as

relações de poder num campo econômico, político e cultural; a construção histórica e

relacional de identidades e os processos de TDR.


Neste ponto, o autor destaca que a diferenciação entre ambos conceitos é tênue, e que

definí-los especificamente é uma questão epistemológica, ontológica e política. Ele

destaca que reconhecer características de heterogeneidade e homogeneidade do real é

fundamental para ter-se uma concepção histórico-crítica e renovada de território e

territorialidade. Para este último conceito, Saquet traz adicionalmente a visão de dois

autores, Robert Sack, que define territorialidade como a ações humanas de um

indivíduo ou grupo para controlar, influenciar ou afetar objetos, pessoas e relações em

uma área delimitada, sendo esta o território, e define comunicação, controle e

classificação do território como as principais facetas da territorialidade; e Giuseppe

Dematteis, que compreende a territorialidade como mediação simbólica, cognitiva e

prática que a materialidade dos lugares exercita nas ações sociais, ou seja, é dependente

da valorização de condições e recursos materiais do território em processo de

desenvolvimento (o que ele chamou de territorialidade ativa), concretizado por

organização política ou planejamento participativo. Para este último, a territorialidade

confere identidade ao lugar.


NOÇÕES/CONCEPÇÕES AUTORES:


AMBIENTE


RAFFESTIN: “O ambiente constitui a matéria-prima sobre a qual

o homem trabalha, socialmente, para produzir o território que

resulta, eventualmente, mais tarde, por intermédio da observação,

em uma paisagem”.


TERRITÓRIO


RAFFESTIN: “pois, evidente como a construção dos territórios foi

muito influenciada, não somente pelas atividadesagrícolas mas

também pelas políticas, pelas transformações das cidades e pelas

mudanças dos hábitos de consumo”


“O território é resultado das territorialidades efetivadas pelos

homens, naquilo que Raffestin (1993/1980) denomina de conjunto

de relações do sistema tridimensional sociedade-espaço-tempo.”

. Diferentemente de Milton Santos,Claude Raffestin não recorta o

espaço, mas transforma-o em substrato para a “criação” do

território.


MILTON SANTOS (por SAQUET): “o conceito de território é

subjacente, composto por variáveis, tais como a produção, as

firmas, as instituições, os fluxos, os fixos, relações de trabalho etc.,

interdependentes umas das outras”

“Milton Santos recorta o espaço em territórios sem separá- los, isto

é, os territórios estão no espaço geográfico”

“O território é chão e mais a população, isto é, uma identidade, o

fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O

território é a base do trabalho, da residência, das trocas materiais e

espirituais e da vida, sobre os quais ele influi. Quando se fala em

território deve-se, pois, de logo, entender que se está falando em

TERRITÓRIO USADO*, utilizado por uma dada população”.


*TERRITÓRIO USADO: conceito da geografia. Todo território

tem UMA HISTÓRIA, um povo, alguém que habita ali. Sempre

lembrar disso.


ROSA M. MEDEIROS (por SAQUET): Território é uma parcela

do espaço que abarca uma mesma identidade e que reúne indivíduos

com o mesmo sentimento.


“O território de um assentamento é constituído por um grupo de

pessoas que vivem no mesmo espaço e que lá vivem não por se

identificarem, mas porque se engajaram em um movimento cuja

identidade comum é ser sem-terra e cujo objetivo comum é a busca

da terra.”


Território dos assentamentos produz seus próprios símbolos que

geram ações que reforçam e multiplicam os símbolos em si.


HAESBAERT (1997): Território é LUGAR antes de ser

FRONTEIRA. É instrumento do poder político e da identidade

cultural (dimensão simbólica, identitária e AFETIVIDADE).


YU-FU TUAN: O autor afirma que os animais tem noção de

território e de lugar, mas entende que as pessoas correspondem ao

espaço e lugar de maneiras complexas, diferentes das existentes no

reino animal.


TERRITORIALIDADE


RAFFESTIN:

“a cada mudança de territorialidade, a produção

territorial é alterada e os problemas a serem enfrentados com

relação ao ambiente são mais diversos”

“A territorialidade é compreendida como relacional e dinâmica,

mudando no tempo e no espaço, conforme as características de cada

sociedade.”


SAQUET: “A territorialidade, dessa forma, significa as relações

sociais simétricas ou dessimétricas que produzem historicamente

cada território”

“A territorialidade é um fenômeno social que envolve indivíduos

que fazem parte do mesmo grupo social e de grupos distintos. Nas

territorialidades, há continuidades e descontinuidades no tempo e no

espaço; as territorialidades estão intimamente ligadas a cada lugar:

elas dão-lhe identidade e são influenciadas pelas condições

históricas e geográficas de cada lugar.”


SACK (POR SAQUET): “A territorialidade corresponde às ações

humanas, ou seja, à tentativa de um indivíduo ou grupo para

controlar, influenciar ou afetar objetos, pessoas e relações numa

área delimitada. Esta área é o território e, para Robert Sack, pode

acontecer que ocorra o não-território, onde não há delimitação e

efetivação de relações de controle e influência por certa autoridade”

Comunicação, controle e classificação de áreas são as três facetas

principais da territorialidade humana que depende, diretamente, da

atuação de certa autoridade e do contexto social e histórico de cada

grupo social.


DEMATTEIS (POR SAQUET): A territorialidade também pode

ser compreendida como mediação simbólica, cognitiva e prática que

a materialidade dos lugares exercida nas ações sociais. A

territorialidade é entendida como valoização das condições e

recursos potenciais de contextos territoriais em processos de

desenvolvimento, o que pode ser traduzido numa territorialidade

ativa, que pode ser concretizada através da organização política e do

planejamento participativo. A territorialidade é um fenômeno social

que envolve indivíduos que fazem parte do mesmo grupo social e de

grupos distintos.


Nas territorialidades, há continuidades e descontinuidades no tempo

e no espaço; as territorialidades estão intimamente ligadas a cada

lugar: elas dão- lhe identidade e são influenciadas pelas condições

históricas e geográficas de cada lugar.


ROSA M. MEDEIROS (por SAQUET): “...criar-se-á uma

subjetividade, uma identidade com aquele espaço construindo assim

através da sua apropriação, UMA TERRITORIALIDADE.”


TERRITÓRIO/ESPAÇO


RAFFESTIN: “É fundamental entender como o espaço está em

posição que antecede ao território, porque este é gerado a partir do

espaço, constituindo o resultado de uma ação conduzida por um ator

que realiza um programa em qualquer nível.”


SAQUET: “...espaço e território são dois níveis diferentes da

organização sócio-espacial.”

“O território é uma construção coletiva e multidimensional, com

múltiplas territorialidades diferenciando o território do espaço

geográfico a partir de três características principais: as relações de

poder, as redes e as identidades”


“diferenciar minimamente o território do espaço. Para nós,

sucintamente, há pelo menos três processos que, ontologicamente,

estão na base desta diferenciação: a) as relações de poder numa

compreensão multidimensional, constituindo campos de força

econômicos, políticos e culturais ([i-] materiais) com uma miríade

de combinações; b) a construção histórica e relacional de

identidades; c) o movimento de territorialização, desterritorialização

e reterritorialização”


“a diferenciação entre território e espaço, no real, é muito tênue e

dificulta nossas leituras e conceituações no nível do pensamento”.



PAISAGEM/TERRITÓRIO


RAFFESTIN: “Os homens, cotidianamente, não constroem a

paisagem, mas o território, que poderá, talvez, tornar-se paisagem.

Até há pouco tempo os produtores de território não tinham

consciência de que eram “produtores” de paisagem”

“a urbanística propõe uma imagem que é tornada território através

da concretização do projeto. A imagem, em tal caso, tornou-se mais

importante que o objeto!”


TERRITORIALIZAÇÃO/DESTERRITORIALIZAÇÃO/RETERRITORIALIZAÇÃO


RAFFESTIN: “Devemos ter consciência de que a transformação da

atividade humana e por conseqüência, dos processos de

territorialização corresponde a outro modo de compreender as

coisas degradadas na natureza”


“Apropriando-se concretamente ou abstratamente (por exemplo,

através da representação) de um espaço, o ator o “territorializa”.

“Na produção territorial sempre tem um ponto de partida que nunca

é ileso das ações do passado. O processo territorial desenvolve-se

no tempo, partindo sempre de uma forma precedente, de outro

estado de natureza ou de outro tipo de território”.


MILTON SANTOS (o espaço do cidadão): “O território em que

vivemos é mais que um simples conjunto de objetos, mediante os

quais trabalhamos, circulamos, moramos, mas também um dado

simbólico. A linguagem regional faz parte desse mundo de

símbolos, e ajuda a criar esse amálgama, sem o qual não se pode

falar de territorialidade.” (p.82)



LUGAR/NÃO LUGAR


AMÍLCAR DE GIL E PIRES: O autor traz a noção de Lugar

através de uma perspectiva poética como um processo de criação

relacional do arquiteto com o sítio. Pires se utiliza do termo “genius

loci” para definir a existência de um caráter ou de uma essência

expressos no Lugar através de sua linguagem arquitetônica. (p.6)

Compara o Lugar ao “pequeno cosmos” de Norberg-Schulz como

um sistema de lugares, para o qual é necessário que captem o seu

“genius”. (p.6)


“Para além de marcar uma posição no espaço, o Lugar afirma-se

sobretudo pela sua autonomia cultural, que é reconhecida tanto

pelas vivências que propicia como pelo caráter físico dos elementos

constituintes do seu espaço- Arquitetura, elementos naturais e

ambientais.” (p.7)


Segundo Pires o projeto de Lugar é resultante de relações:

Relação da Arquitetura com o Lugar- “O lugar, cada lugar, não é um

espaço indiferenciado, existem pontos singulares em cada sítio que

lhe dá origem, que são identificados de modos diversos”.

Relação Intencional da Arquitetura com a Natureza- “Oposição ao

racionalismo modernista, em função da experiência sensorial e

corporal do homem que habita o seu espaço.”


Relação Lugar e História- “O sítio pode ser destruído, reformado ou

transformado- perspectiva fenomenológica e poética.”

“Se o sítio está entre lugares, sem ser realmente um lugar, pode

tornar-se num lugar, pelo menos para seus futuros habitantes.” (p.7)

MARC AUGÉ: Os “não lugares” em oposição ao lugar

antropológico, que é “princípio de sentido para aqueles que o

habitam”. (p.55)


“Se um lugar pode se definir como identitário, relacional e histórico,

um espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como

relacional, nem como histórico definirá um não-lugar” (p.73).

Afirma que, na supermodernidade, o encolhimento do mundo e a

superabundância do espaço levam à produção de “não lugares”,

como “instalações necessárias à circulação acelerada das pessoas e

bens” (aeroportos, rodoviárias, salas de espera, estações de metrô),

os meios de transporte (aviões, trens de grande velocidade), os

grandes centros comerciais (hipermercados, shoppings) e ainda os

campos de trânsito prolongado (campo de refugiados) (p.36).


“Na realidade concreta do mundo de hoje, os lugares e os espaços,

os lugares e os não lugares misturam-se, interpenetram-se” (p. 98)


YU-FU TUAN: “O lugar é segurança e o espaço é liberdade:

estamos ligados ao primeiro e desejamos o outro”.


“O espaço transforma-se em lugar à medida que adquire definição e

significado”. (p.15)


"Quando o espaço nos é inteiramente familiar, torna-se lugar".

(p.16)


Tuan define os lugares como “centros aos quais atribuímos valor e

onde são satisfeitas as necessidades biológicas de comida, água,

descanso e procriação” (p.17).


LUGAR/ESPAÇO


YU-FU TUAN: Tuan faz uma análise dos conceitos de espaço e

lugar a partir de uma perspectiva experiencial; ele busca o

entendimento desses conceitos a partir da relação sensível entre o

indivíduo e os meios. Segundo o autor, o que entendemos como

espaço acaba por se transformar em lugar ao passo que o

reconhecemos e o significamos.


“O Espaço é um símbolo comum de liberdade no mundo ocidental.

O espaço permanece aberto; sugere futuro e convida a ação. Do lado

negativo, espaço e liberdade são uma ameaça. [...] Ser aberto e livre

é estar exposto e vulnerável. O espaço aberto não tem caminhos

trilhados nem sinalização. Não tem padrões estabelecidos que

revelem algo, é como uma folha em branco na qual se pode

imprimir qualquer significado. O espaço fechado e humanizado é

lugar. Comparado com o espaço, o lugar é um centro calmo de

valores estabelecidos. Os seres humanos necessitam de espaço e de

lugar. As vidas humanas são um movimento dialético entre refúgio

e aventura, dependência e liberdade.” (TUAN, 1983, p.61)

Concepção do espaço: ele diz que o homem usa principalmente a

visão para organizar o espaço, enquanto os outros sentidos

enriquecem o espaço visual, por exemplo, o som dramatiza a

experiência no espaço. O espaço pode ser mítico, pragmático ou

abstrato (teórico). Já o lugar é um tipo de objeto. Lugares e objetos

definem o espaço.


O espaço é dado pela capacidade de mover-se.

Fases da vida: O primeiro lugar da criança é a mãe, pois apesar de

se mover, ela representa estabilidade (está sempre por perto quando

é necessária). Conforme a criança cresce, ela deixa de se apegar

tanto a pessoas e cria esse vínculo com objetos, desenvolvendo um

sentido de propriedade com seus brinquedos. Finalmente, ela passa

a se apegar a localidades.


AMÍLCAR DE GIL E PIRES: “Algumas definições de Lugar não

traduzem a vivência do espaço, o lugar é definido, com

regularidade, como uma posição de um corpo num determinado

espaço, pressupondo as relações entre corpos diferentes no espaço e

de si com o espaço global”


Crítica ao modelo de cidade contemporânea – revalorização da ideia

de lugar estreitamente relacionada à recuperação da história e da

memória.


MARC AUGÉ: “O termo espaço é mais abstrato do que o de

lugar, cujo emprego se refere a um mito (lugar dito) ou a uma

história (lugar histórico)” (p. 77).


Ex.: “espaço aéreo”, “espaço judiciário”, “espaço publicitário”. São

termos pertencentes à contemporaneidade: “imagem, liberdade,

deslocamento” (p. 78).


RAFFESTIN: “A nossa sociedade pode, bem ou mal, criar tudo o

que deseja, desde pequenos objetos às paisagens-territórios. Com a

informação à disposição, a sociedade atual tem necessidade de

matéria, de energia e de espaço como suporte. Nesse sentido, o

espaço volta a ser importante. O seu papel é, sobretudo, de

“estrutura que suporta” as ações humanas mais que de conteúdo

sensível, mesmo que tenha a ação de diversos movimentos

ecologistas que tentam proteger o espaço não somente como

estrutura, mas também como conteúdo”



RELAÇÃO CULTURAL, IDENTIDADE, PERTENCIMENTO (SOCIAL)/ RELAÇÃO DE CONSUMO


AMÍLCAR DE GIL E PIRES: “O movimento do homem acaba

por definir o caráter específico do lugar. É a sua apropriação pelos

diferentes usos e hábitos culturais que lhe confere a identidade.”

(p.8)


“O espaço arquitetônico corresponde a um lugar em particular que

reflete os diferentes níveis culturais que estão na sua base

conceitual, que contribuem decisivamente para a definição e

expressão da sua identidade e caráter formal.”


“Considera-se, assim, que para produzir um edifício o arquiteto

reflita sobre a identidade de um grupo - casa, edifício religioso ou

outros - a sua concepção tem que partir duma abordagem

interpretativa do Lugar, tem que reconhecer os símbolos de

Identidade e proporcionar a interação entre os utilizadores e os

diferentes espaços de pertença individual ou social.”

Um dos fatores que marca o lugar é a autonomia cultural,

reconhecida pelas vivências que o lugar propicia e pelo caráter

físico dos seus elementos.


O pertencimento a um lugar depende da afirmação de identidade do

indivíduo (como ser individual e como membro de um grupo).

A pessoa manifesta a sua identidade de duas formas: a identidade

privada e a identidade pública.


MARC AUGÉ: Augé afirma que as relações sociais estão

relacionadas aos Lugares enquanto as relações de consumo estão

relacionadas aos Não-lugares.


Espaço do não lugar “cria solidão e similitude” (p. 95).

“o vocabulário tece a trama dos hábitos, educa o olhar, informa a

paisagem” (p. 99).


“O social começa com o indivíduo” (p.24).


“As culturas jamais constituem totalidades acabadas (por razões

extrínsecas e intrínsecas): e os indivíduos, tão simples quanto os

imaginamos, nunca são o suficiente para não se situar em relação à

ordem que lhes atribui um lugar: só exprimem a sua totalidade de

certo ângulo” (p.26)


Sempre que há algum problema em uma ordem (guerras e revoltas),

existe alguma iniciativa individual atuando, não é fruto puramente

da cultura.


YU-FU TUAN: Segundo o autor, as pessoas atribuem significado e

organizam o espaço e o lugar através da cultura.

Dentro do campo do pertencimento, o autor também discorre sobre

o patriotismo. Segundo ele, a afeição pela pátria é uma emoção

humana comum, e a sua intensidade varia em diferentes culturas e

períodos históricos.


Relação entre o Projeto de Pesquisa e a Disciplina:


Dagmar Dias Cerqueira


Título: Escolas padronizadas em steel frame: avaliação pós-ocupação e propostas para

intervenções em tempos pós-pandêmicos.

Orientação: Prof. Dr.ªGiselle Azevedo

Grupo de pesquisa: GAE


A pesquisa trata da análise da arquitetura escolar padronizada em aço a partir da

perspectiva de seus usuários (comunidade escolar). Caracteriza-se por um Estudo de

Caso, utilizando como uma das técnicas de pesquisa a Avaliação Pós-Ocupação.


Questão Central:

● Como a produção padronizada de arquitetura escolar pode ser

potencializada, segundo a comunidade escolar, no sentido de uma escola

cidadã?

A hipótese está norteada na afirmação de que a partir do diálogo com a comunidade

escolar, expondo suas expectativas e necessidades em prol de uma escola cidadã, é

possível trazer contribuições à produção padronizada da arquitetura escolar.

Possíveis contribuições da disciplina:

● Análise das ambiências. (campo teórico e metodológico)

● Explorar o conceito de Território Educativo. (campo teórico)

● Explorar as subjetividades. (campo teórico e metodológico)


Vanessa Sartori Rodi

Título: Filosofia e integração de luta contemporânea através do desenho de espaços coletivos

em assentamentos rurais do MST no Rio de Janeiro.

Orientação: Prof. Dr. Rubens de Andrade

Grupo de pesquisa: ProLUGAR


A pesquisa visa analisar o desenho dos espaços coletivos/públicos nos assentamentos

rurais do MST, a fim de identificar como a arquitetura reforça e reflete a identidade e

filosofia do movimento. Sendo assim, os textos abordados na disciplina foram de muita

riqueza para a construção de embasamento teórico da pesquisa, principalmente os que

se referem ao eixo 7 de território e territorialidades, onde diversos conceitos como

identidade, território e cultura são discutidos por diversos autores.


Lucas Yudi Moriya Sampaio

Título: Os sons do espaço público carioca: Ocupações, Manifestações, Conflitos e Estratégias

de Projeto

Orientação: Profa. Dra. Andrea Queiroz Rego

Grupo de pesquisa: PROAMB


A tese proposta tem como questão central como perceber, interpretar, analisar e

requalificar o ambiente acústico do espaço público urbano por meio da abordagem da

paisagem sonora no cenário do Rio de Janeiro como metrópole de país emergente. Neste

âmbito, lida-se muito com a questão do território, ao passo que conflitos surgem entre

manifestações e ocupações que disputam o espaço sonoro, caracterizando

territorialidades sonoras por parte de grupos ou atores sociais distintos.


Beatriz Cruz Amback

Título: Diretrizes para a implantação de técnicas compensatórias em Drenagem Urbana

Sustentável em Espaços Livres Urbanos na Bacia Hidrográfica do Canal do Mangue

Orientação: Prof. Aline Pires Veról

Grupo de pesquisa: PROAMB


A pesquisa trata da requalificação de Espaços Livres integrada ao sistema de manejo de

águas pluviais na área compreendida pela Bacia Hidrográfica do Canal do Mangue. O

trabalho busca diretrizes para a incorporação de infraestrutura de Drenagem Urbana

Sustentável em espaços multifuncionais. A base teórica do trabalho busca resgatar o

conceito de Sistema de Espaços Livres, que permeia as noções de lugar, território,

territorialidade, paisagem, ambiente, entre outros conceitos que estão sendo discutidos

ao longo da disciplina.


Possíveis contribuições:

● Embasamento teórico, trazendo visões de diferentes autores a respeito de

conceitos aplicáveis à pesquisa.

● Entendimento da relação das pessoas com o lugar, auxiliando projetos

urbanísticos para que criem um vínculo afetivo da população com a cidade

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