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Pensando as Ambiências pela Subjetividade
Penser les Ambiances à travers de la Subjectivité
Curso de Extensão VI Edição
06 de Maio - 08 de Julho, 2021

Cours d'Extension VI Édition
06 Mai - 08 Juillet, 2021

REPOSITÓRIO

"Arquitetura, Subjetividade e Cultura: Pensando ambiências pela subjetividade" foi um momento valioso de trocas e aprofundamento nas noções de alteridade, identidade e memória, em especial na prática e na pesquisa em Arquitetura e Urbanismo. Em 2021, a modalidade remota permitiu o intercâmbio com nossos parceiros nacionais e internacionais. Confira aqui neste repositório os fichamentos e ensaios produzidos pelos participantes do curso ou assista aos vídeos completos das palestras.

EIXO 4: Subjetividade e Cidade

Por Ana Paula Pereira de Campos Lettieri, Giselle dos Santos Valério, Lígia Maria Mello Dias, Mariana Frota Agum, Paolla Clayr de Arruda Silveira, Priscila Gonçalves Santos e Rafael Ferreira de Souza.

Texto 1: PINHEIRO, Ethel. Cidades-Entre: Dimensões do Sensível em Arquitetura ou A

Memória do Futuro na Construção de uma Cidade. Tese de Doutorado, PROARQ. UFRJ,

2010. (pag. 45 a 60). [1]


Transitoriedade (2.1.1)


Na primeira subseção analisada, a autora traz uma reflexão acerca da complexidade da

cidade contemporânea, das novas formas espaciais que conformam a urbe e das

características que a diferenciam de cidades de outras épocas, onde a centralidade exercia um

papel fundamental no fluxo, uso e circulação dos citadinos. Ao falar sobre a conurbação

existente nas ‘mega-cidades’ da China, a autora pondera:


A dimensão desta nova megalópole é avassaladora; ela começa sem referências

históricas, sem diretrizes estipuladas pelo passado. Ela é marcada pelo valor da

transitoriedade e da aceitação irrestrita (PINHEIRO, 2010, p.45).

Portanto, essa nova configuração dos espaços urbanos, juntamente com a aceleração e

explosão dos meios de comunicação, assentam as bases de ação e convívio social, trazendo

mudanças, rupturas e também possibilidades outras:

(...) o mundo contemporâneo está marcado por uma concordância, quase universal,

de que a diferença e a transitoriedade não são meramente inevitáveis, porém boas,

interessantes e precisando de cultivo (Ibidem, p.46).


Nesse novo contexto de transitoriedade, a imagem da cidade e as imagens na cidade,

ganham um vulto de valorização nas apreensões do entorno, gerando um bojo

comunicacional imagético de suma importância para a arquitetura e urbanismo do século

XXI: “(...) a espetacularização da vida cotidiana e a transitoriedade dos vínculos e do espaço,

impressa pela valorização da imagem” (Ibidem, p.47). E ainda:

Podemos utilizar a metáfora da fotografia: o que queremos consumir está na

planície da visão, na superfície das formas. Não consumimos os edifícios, que

atualmente mal digerimos por conta da velocidade nas vias expressas; consumimos

imagens, que se deslocam imaterialmente com as necessidades de consumo.

Consumimos a transitoriedade e a mobilidade. Pode-se dizer, então, que a

arquitetura atual, no fim das contas, é propriedade dos críticos e torna-se textual em

vários sentidos, além de narrar um tempo outro que o seu (Ibidem, p.47).


Essa transitoriedade e descentralização, características da cidade contemporânea,

estariam colocando o citadino num lugar histórico particular, onde as instâncias temporais se

imbricam, numa difícil dissolução dos limites históricos em que a cidade e a arquitetura se

fundamentaram, até o período moderno. A cidade pós-moderna dilui a relação espaço-tempo,

gerando assim, um novo modo de percepção e retenção das imagens que criamos da cidade,

logo, da memória[2].


Virtualidade como Tensão de Possibilidades (2.1.2)

“Sob certo ângulo, as linguagens apresentam-se como ferramentas não neutras de

interação com o que é externo ao intelecto, carregando uma concepção mutante de

visões de mundo, preconceitos, conhecimentos e ideias. A construção de

significados é constante e obedece a uma dinâmica similar ao da conceituação de

cidades” (PINHEIRO, 2010, p.48).


A segunda subseção abordada no texto busca elucidar questões intrínsecas a definição

do que seria virtual e de como poderíamos categorizar e diferenciar o virtual da virtualidade.

Grande parte das ideias apresentadas provém da confrontação com os escritos de Pierre Levy,

porém, contemplando também reflexões de autores outros como Félix Guattari e Gilles

Deleuze (ambos representantes do desconstrutivismo e das múltiplas possibilidades de leitura

e interpretação das linguagens, signos e sintaxes):

(...) o virtual era a brecha de um espaço (intangível, mas possível) conformado por

inúmeras possibilidades temporais; virtual é o mundo que tentamos acompanhar e

ele é feito por experiências agregadas como tempo. Virtualidade é uma qualidade

que extrapola o acontecimento no plano real, ou seja, é a vivência com um tipo de

memória disposta por várias passagens, inclusive –e principalmente –as visões de

futuro (Ibidem, p.49).


Esse esforço de amparar as bases da virtualidade e do virtual vai de encontro ao

entendimento do que seria tangível, jogando luz nas potencialidades contidas nessas novas

formas do viver, desse alargamento, dessa extensão da vida condicionada pelas tecnologias de

comunicação, contudo com o cuidado de preservar a essência da consciência:

O tangível é tão problemático e reconfigurável quanto o virtual; igualmente não

acontece sem que sejam descartadas – pelo tempo e rumo dos acontecimentos – as

diversas outras possibilidades excludentes que se afiguram a partir de uma dada

situação inicial (Ibidem, p.50).

Espaços virtuais ampliam e amplificam o intelecto, mas em última instância,

mesmo que extrapolado em suas possibilidades interacionais com as coletividades,

este mesmo intelecto continua a sediar a consciência (Ibidem).


Essa característica do modus operandi das cidades contemporâneas estariam, de certa

maneira, constituindo um novo espaço-tempo inter-relacional, catalisador de uma memória e

uma imagem da cidade nunca antes capacitada, onde o virtual seria portador de faculdades de

sua própria definição linguística das ‘possibilidades’, integradas a essa cidade imaterial,

produzida e substanciada através de nossa subjetividade e catapultada na percepção

multissensorial dos espaços da urbe:

O virtual pertence, então, ao pólo do possível, porque denota o quanto algo pode ser

naquele momento. Ele trabalha, exatamente, a noção de ‘entre’, através da

congregação dos tempos, que é a noção de Memória do Futuro (Ibidem, p.51).

Para que a virtualidade corrobore com a imagem produzida e a forma de

experimentação das cidades contemporâneas, recorremos a um assunto já

mencionado e crucial na produção de cidades imateriais: a subjetividade, fato

inerente à evolução humana (Ibidem, p.52).


Subjetividade: uma recorrência à vida sensível? (2.1.3)

“A comunicação de nosso corpo com o espaço e o tempo é o que tem motivado a

maior parte das incursões na teoria arquitetônica sobre o futuro das cidades”

(PINHEIRO, 2010, p.52).


Nesta última subseção do texto a autora traz apontamentos que sublinham a

importância que a subjetividade alçou no contexto das dinâmicas das cidades do século XXI.

Algumas das reflexões tangenciam os conceitos do escritor Zygmunt Bauman acerca do

atributo líquido que perpassa as coisas, objetos e pessoas da sociedade contemporânea, onde

a memória se fragmenta em rebatimento as pluralidades fugazes das conjunturas e das

experiências cotidianas, apartadas do modelo vigente nos séculos passados:

O perecimento das coisas passa a representar a fratura dos sistemas e todas as áreas

adjacentes à formação de uma cidade (sua arquitetura, geografia, pessoas, laços

afetivos, sociais, culturais) se subjugam a isso e conformam as novas subjetividades

imperantes no século XXI (p.53).


E não somente as concretudes e os espaços urbano-arquitetônicos e nossos hábitos

foram alterados, porém da mesma forma, nosso sentido de coletividade[3] e nossa capacidade

dialética de compreensão de nosso âmago e de nosso espectro fulcral, extrínseco ao nosso

invólucro corporal.


Destarte, a operacionalidade de nossas subjetividades e de nossos modos de apreensão

e percepção dos sentidos, replica os ditames multifacetados dos ambientes urbanos e

arquitetônicos em frequente transmutação, galgados na rapidez e na brevidade das

sustentações de nosso porvir. Gerando o que autora apontou como uma ‘cidade-entre’[4], esse

novo lugar citadino espreitado entre o simulacro e o real:

Este ‘funcionamento’ das subjetividades contemporaneamente é algo inédito na

história mundial, pois oferece uma delimitação de profundidades que surge para

estruturar as formas de convivência como “Outro” na cidade (Ibidem).


As maneiras de sentir refletem, igualmente, um estado dado das condições de

sensorialidade: elas induzem, a partir de formas sensoriais inéditas, transformações

profundas nos processos de subjetivação e nos tipos de personalidade (Ibidem,

p.57).


A subordinação aos meios e ambientes em que vivemos nas cidades contemporâneas,

descolou o sujeito de suas tradições, costumes e modos de operacionalizar sua vida. O século

XXI trouxe consigo um novo paradigma comunicacional, que vem causando uma ruptura

drástica de nosso modus vivendi; a intensificação dos estímulos sensoriais, sobretudo visuais,

apoia-se nos modos de representação estética e imagética como base do consumo, inclusive

dos espaços construídos. Contudo, essa necessidade de abstração coloca o indivíduo em um

limiar delicado, que usurpa, em certa medida, a sua potencialidade de emancipação:

(...) a heteronomia e a alienação passam a caracterizar o indivíduo contemporâneo,

‘maculado’ em sua subjetividade, transitório em seus acontecimentos, complexo em

seu modus vivendi (Ibidem, p.59).


Texto 2: HAROCHE, Claudine. A condição sensível. (Tradução de Jacy Seixas e Vera

Avellar Ribeiro). Rio de Janeiro: Contracapa, 2008 [5]


Claudine Haroche é uma pesquisadora da Subjetividade, doutora em Sociologia que

atua na França, o que se torna interessante ser mencionado pelo viés do pensamento da

subjetividade em muitas outras pesquisas contemporâneas, sob as discussões da maneira

como os sujeitos são ou se portam em sociedade, preocupações fundadas na Sociologia,

amplamente discutidas em autores como Simmel e Mauss. O livro em análise vem destacar as

maneiras de sentir e perceber, que se alteram ao longo da história, sendo comum que um ou

mais sentidos predominem em cada momento.


Na Idade Média, por exemplo, prevaleciam a visão e o tato, e na modernidade

contemporânea, a visão e audição. Essas maneiras de sentir, refletem “um estado dado das

condições de sensorialidade”, o qual se relaciona tanto ao “modo de existência dos objetos”

quanto “às maneiras de perceber” do homem, como se houvesse o processo de “contenção”

do ser no mundo, ou seja, numa representação distinta do corpo, instaurando e permitindo a

existência do sujeito.


Posto isso, discorre sobre marcas que caracterizam a contemporaneidade e os

indivíduos que fazem parte dela, dentre as quais estão a fluidez, a exposição permanente a

informações e sensorialidades, a perda de referências simbólicas, a exteriorização do sujeito,

o individualismo, a falta de atenção e o estreitamento da consciência, fazendo emergir

maneiras inéditas de sentir, buscando ultrapassar o convencional, presente nos usos e ritos

codificados baseados em alguma ordem de precedência, numa espécie de protocolo, posturas,

pudores, respeitos. Esse momento de ruptura que Haroche se refere é colocado como uma

relação entre deslocamento e mobilidade, que abalam o papel estruturado do espaço,

concebendo “eus instáveis e efêmeros”.


Diante de toda essa complexidade, discute – a partir da visão de um conjunto de

autores – sobre as transformações que tem se transcorrido nas maneiras de sentir na

contemporaneidade, levantando questionamentos sobre as condições e a própria permanência

da capacidade de sentir e, indicando o problema da atenção relacionada ao excesso de

experiências sensoriais como a grande questão do século XIX.


Com base em Hume (1739), aponta para o papel da fragmentação e da

descontinuidade das sensações na elaboração da percepção e como própria condição do

pensamento, contrapondo essa necessidade à nova realidade, na qual passamos a não ter

tempo para refletir, para exercitar a consciência, e estamos a todo o tempo suscetíveis a

influências de estímulos constantes e silenciosos que nos afetam, o que ela denomina como

uma “revolução silenciosa”, ao elaborar a ideia de que o objeto continua a existir, mesmo

quando está ausente para nós.


A alternância entre movimento e pausa é, num primeiro momento, colocada como

algo imprescindível para a percepção e o pensamento, e como algo inexistente na atualidade,

onde o movimento é incessante. Segundo Adorno e Horkheimer, tal condição gera surdez e

cegueira físicas e psíquicas, atrofiando a imaginação e a espontaneidade.


Janet (1889) corrobora com esse pensamento e defende, ainda, “o automatismo

psicológico sobre os mecanismos sensoriais”, levantando que “é a ausência ou a presença de

sentimentos que permite que afirmemos que um indivíduo tem ou não consciência”. Para o

autor, quanto mais inteligente o homem se torna ao longo de sua evolução, há uma tendência

de redução, e mesmo desaparecimento, dos sentimentos.


“Nas sociedades contemporâneas, a sensação contínua e o movimento permanente

transformaram os funcionamentos da sensorialidade: estimularam o desinteresse,

descompromisso e desengajamento e afastaram a ideia de limite, de consciência, e a

noção do eu mesmo” (HAROCHE).


Nesse contexto, autores como Gitlin evidenciam o papel das mídias como

intensificadoras desse fenômeno, afetando principalmente os sentidos da visão e audição –

visto que no audiovisual ouvir e ver se confundem – e contribuindo para tornar os indivíduos

desatentos e distraídos. Com base em Balandier, Haroche destaca que “embora a mobilidade

seja uma dimensão intrínseca à mídia, a multiplicação e a extensão dos domínios desta fazem

com que os efeitos de realidade tendem a se tornar toda a realidade, num crescente estado de

indistinção”.


Tocqueville, por sua vez, aponta essa desatenção como algo perigoso, uma ameaça, e

o maior “vício da democracia”, que estimula a incapacidade de escuta. “A transformação nas

maneiras de sentir, de perceber, acompanha-se de uma mudança da personalidade

contemporânea”, marcada pela superficialidade, na qual se evita a relação com o outro,

provocando isolamento. Tal concepção, faz parte do que Gauchet aponta como “contornos da

personalidade contemporânea”, caracterizados pela “renúncia de si e indiferença em relação

aos outros”.


“sobreviver significa não apenas se movimentar, se deslocar, mas ter a possibilidade

de refletir, de ser ativo em seu pensamento. Sobreviver é vivenciar sensações

difusas, passageiras, intensas, mas também poder experimentar sentimentos –

duráveis e profundos – que permitem pensar, distanciar-se e, a partir daí, perceber e

reconhecer o outro, respeitá-lo” (HAROCHE).


Nessa visão sobre o sujeito, Simmel aponta os sentimentos como efeitos do seu modo

de vida, afirmando que “os comportamentos induzem os sentimentos”. O autor agrega à

discussão o conceito de “alma moderna”, a definindo como uma impressão de tensão, de

melancolia, uma insatisfação, sentimento de urgência, busca por uma satisfação passageira,

por estímulos sempre novos, sensações e atividades exteriores.


O texto destaca ainda que, em geral, os trabalhos sobre a temática tendem a colocar

maior enfoque sobre os sentidos da visão e da audição, entretanto, o tato exerceria função

essencial, pois é ele que “garante, protege e possibilita o desenvolvimento e a presença do

vínculo e do afeto no pensamento, contra a indiferença e o insensível”.


Após levantar os questionamentos iniciais e apresentar a ótica dos referidos autores, o

texto caminha para a consolidação de uma visão que aponta não para o desaparecimento da

percepção, mas para o surgimento de novas formas de sentir.


Nesse contexto, Bergson interpõem questionamentos sobre como perceber quando o

movimento é permanente, e sobre a possibilidade de escolher por não agir no movimento

incessante. Segundo este autor, “jamais há imobilidade verdadeira, se por isso entendermos a

ausência de movimento. O movimento é a própria realidade, e o que chamamos de

imobilidade, um determinado estado da coisa”. E complementa que “nossa própria pessoa é

mobilidade”.


Para Bauman, por sua vez, diante da fluidez, “os atuais centros de produção de sentido

e de valor estão desterritorializados”, já que “as localidades perdem, pouco a pouco, a

capacidade de produzir e de tratar da significação”, ao considerar a condição de fluidez, que

vem a vincular com a fala de Legendre, ao mencionar que na indiferenciação há a ameaça de

uma regressão.


Nesse sentido, Haroche permeia o trabalho na discussão do caráter transdisciplinar, ou

até mesmo, indisciplinar, quando entende que as pesquisas subjetivas deve levar os olhares

para as bordas, não como fronteiras, posto que algumas áreas causam ruídos em outras

disciplinas, e para abordar o registro dos sentidos e dos sentimentos, é necessário flexionar as

condições de genealogia do indivíduo e sujeito, por todo o percurso histórico, desde o século

XVI até a contemporaneidade.


Na perspectiva da autora, que em diversos momentos do texto traz perguntas retóricas,

como modo de colocar o leitor numa posição de desconforto a fim de levá-lo a pensar sobre

quais seriam as possíveis hipóteses, até o ponto de provocar ao dizer: “percepções e ideias

podem perdurar, e mesmo existir, quando o movimento é incessante?”.


O texto vai transcorrendo e, por volta da conclusão, indicando a necessidade de

repensar o papel da sensorialidade e da percepção, levanta uma série de outros

questionamentos e reflexões a partir da visão de que “a duração, a estabilidade, o sentimento

de continuidade, a confiança e a profundidade”, apontadas por diversos autores como

essenciais à constituição do pensamento e da percepção tendem, cada vez mais, a se tornar

ausentes. As sensações substituíram as percepções e afastaram a alternância entre movimento

e pausa, cabendo aos pesquisadores da subjetividade o olhar crítico sobre presença de vínculo

somado ao afeto do pensamento, confrontando a indiferença e o insensível do sujeito na

cidade.



Texto 3: GUATTARRI, Felix e ROLNIK, Suely. Micropolítica: Cartografias do Desejo.

Petrópolis: Ed. Vozes, 1996. (pág. 281-290)


Sobre os autores:

Felix Guattari é um pensador de questões que atravessam vários campos do

conhecimento. Filósofo, psicanalista e militante político, colaborou com a criação de

diversos conceitos e teorias. Aventurou-se em muitos textos individuais e coletivos, dentre

eles, o livro “Micropolíticas”, que trata amplamente o tema da subjetividade de modo

indissociável com as questões políticas. O autor conduz em seus textos fortes críticas ao

capitalismo e apresenta-o como problemática da contemporaneidade.


Suely Rolnik é fundadora do núcleo de estudos da subjetividade da PUC-SP.

Psicanalista, escritora e professora. Sua investigação enfoca as políticas de subjetivação em

diversos contextos. Rolnik aborda a subjetividade através de uma perspectiva

transdisciplinar que está diretamente ligada a uma pragmática clínico-política. A autora

busca em suas abordagens trazer questões sobre a micropolítica, mas como experiência

interna do sujeito. Suas críticas e conceitos estabelecem fortes colaborações ao tema da

subjetividade.


Sobre a obra:

Organizado por temas o Livro “Cartografias do Desejo” consiste em uma montagem

composta por fragmentos de um material diverso produzido durante a visita de Guattari ao

Brasil a convite de Rolnik. São compostos por 3 tipos de componente: aforismas; pedaços

de conversa, de debate, de discussão, de entrevista, de mesa redonda ou de trechos de

cartas trocadas entre Guattari e Rolnik; e trechos de ensaios de Guattari, de textos de Rolnik

e de pessoas que durante a viagem foram ganhando espaço.


Livro datado pelos acontecimentos que o geraram, o Brasil de 1982, marcado pela

intensificação do movimento de redemocratização macro e micropolítica: eleições,

proliferação de grupos organizados de minorias, uso do termo alternativa para designar

práticas sociais dissidentes (ecos dos anos 70). O livro cartografa as experiências e

confrontos e a busca por saídas na constituição de outros territórios possíveis para o Brasil

de 1982. O livro busca investigar possibilidades para as estratégias da economia do desejo

no campo social, aquilo que Guattari denominou de micropolítica.


Capítulo VI: Amor, territórios de desejo e uma nova suavidade…

Neste capítulo o amor e os territórios do desejo estruturam as reflexões acerca da

produção de subjetividade na contemporaneidade e sua interlocução com o modo de

produção capitalista, os processos de captura e as possibilidades de contra capturas na

produção de novas subjetividades que escapam ao capitalismo.


Guattari defende que a subjetividade é vinculada ao plano do desejo, enquanto

materialidade de onde emanam e sustentam-se as produções coletivas. Da mesma forma, a

produção de subjetividade seria, para o autor, indissociável de uma multiplicidade de

vetores que se atravessam constante e incessantemente. Nesse sentido, descentraliza a

noção de subjetividade, antes comumente considerada um produto exclusivo de uma

instância psíquica e individual, em favor de uma perspectiva coletiva. Sendo assim, trata-se

igualmente de fenômenos que dizem respeito à política, ao Estado, às tecnologias, bem

como ao espaço urbano, aos meios de comunicação, à vida cotidiana e às mais variadas

formas de agenciamentos indicativos das multiplicidades e dos diversos fluxos sociais.


Deste modo, Guattari vislumbra uma relação entre os processos de subjetivação e o

modo de funcionamento do sistema capitalista, afirmando que o segundo cada vez mais se

entrelaça ao primeiro e propõe uma concepção de subjetividade essencialmente fabricada,

modelada, recebida, consumida.


Ao operar na base dos comportamentos perceptivos, sensitivos, afetivos, cognitivos

e linguísticos, o capitalismo transforma a instância individual numa espécie de terminal

consumidor das demandas artificialmente produzidas pelos dispositivos capitalistas de

controle como as mídias, a informática e as produções técnico-científicas. Atuando no

âmbito do desejo, os agenciamentos do poder capitalista permitem, assim, que a sociedade

invista nos valores dominantes instituídos por este poder e construa possibilidades de

futuro, de devir, que interessam à acumulação de capital.


No que se refere à natureza do tratamento dado ao desejo com relação ao sentimento

amoroso na subjetividade capitalística, Guattari defende haver uma encarnação de modelos

pretensamente universais nos quais os sentimentos amorosos são reduzidos a uma esfera de

apropriação do outro. Nas palavras do autor:


"Há um certo tratamento serial e universalizantes do desejo que consiste

precisamente em reduzir o sentimento amoroso a essa espécie de apropriação do

outro, apropriação da imagem do outro. E através desse mecanismo de

apropriação se dá a constituição de territórios fechados e opacos, inacessíveis

exatamente aos processos de singularização, sejam eles de ordem da

sensibilidade pessoal ou da criação, sejam eles da ordem do campo, da invenção

de um outro modo de relação social, de uma outra concepção de trabalho social,

da cultura, etc.”(p.281)


Esse estado de “cegueira” dos “corpos sem órgãos” que se apropriam do outro ou da

imagem que atribuem ao outro e, consequentemente, criam territórios fechados e opacos

têm sido a base para construção de um estado de neurose da vida conjugal fazendo com que

“os sentimentos amorosos mais promissores caiam em território de inferno” (p.281). Afinal,

a própria relação conjugal é universalizada, um modelo é sacralizado, e sob ela se encarnam

devires maquínicos. Devires estes que estruturados a partir da montagem maquínica vão

incessantemente buscar (re)criar um estado de segurança, uma territorialização.

“A questão da montagem de expressão, da montagem maquínica - que muda os

dados, que os remaneja, que propulsiona novas referências, novos universos - é

inseparável da questão dos territórios ou dos ‘corpos sem órgãos’ sobre os quais

se inscrevem, se marcam, se encarnam os devires maquínicos, os processos

incoporais. Mas é bem aí que está toda a ambiguidade do território, da

desterritorialização e das reterritorializações.” (p.282)


Diante deste quadro, Guattari defende a existência de dois tipos de comportamento:

a desterritorialização, traduzido por ele na figura de Ulisses, e a simbiose, traduzida na

figura de Penélope. Ulisses está em busca da sua liberdade e sente repetidas vezes vontade

de abandonar Penélope, pois se sente sufocado por ela, por sua carência e vontade de

presença. A desterritorialização está associada à ideia de aventura, de andar por toda parte,

sem estar em parte alguma. Aqui o mundo torna-se absoluto na existência de Ulisses e o

outro (todas as outras) que ele penetra, “a sensação de destruição (na presença) é

indissociável de uma esperança: a de uma sensação aliviadora de reconstrução (na

ausência) – condição de existência dos Ulisses” (p.286).


A simbiose é representada pela vontade de espelho, a vontade de ficar, nela o

mundo torna-se absoluto na existência dela (Penélope) e do outro (Ulisses) dentro dela.

Vale ressaltar no entanto que no caso de Penélope “a sensação de destruição (na ausência) é

indissociável de uma esperança: a da sensação aliviadora de reconstrução (na

presença)”(p.286), afinal o retorno de ulisses lhe devolve a certeza de ser mulher.

No entanto, ambos estariam intrinsecamente conectados, entrelaçados e seriam

interdependentes entre si, “os dois que precisam tanto do abandono, quanto do grude, pacto

simbiótico. Ambos precisam dessa intermitência" (p.286). É o medo da desterritorialização

que nos faz sucumbir ao enclausuramento na simbiose, assim como é o medo do

enclausuramento na simbiose que nos faz sucumbir à desterritorialização.


“Em um dos extremos, é ao medo da desterritorialização que sucumbimos: nos

enclausuramos na simbiose, nos intoxicamos de familialismo, nos anestesiamos a

toda sensação de mundo, endurecemos. No outro extremo — quando já

conseguimos não resistir à desterritorialização e, mergulhados em seu

movimento, tornamo-nos pura intensidade, pura emoção de mundo —, um outro

perigo nos espreita. Fatal agora pode ser o fascínio que a desterritorialização

exerce sobre nós: ao invés de vivê-la como uma dimensão imprescindível da

criação de territórios, nós a tomamos como uma finalidade em si mesma. E,

inteiramente desprovidos de territórios, nos fragilizamos até desmanchar

irremediavelmente. Entre esses dois extremos, ou essas diferentes maneiras de

morrer, ensaiam-se desajeitadamente outros jeitos de viver. E todos esses vetores

da experimentação coexistem, muitas vezes na vida de uma mesma

pessoa.”(p.284)


Um necessita do outro, um não existe sem o outro, um se afirma no desejo do outro,

assim, os dois se perdem na imagem do outro: “montagens desintoxicadas da vida de

redução do desejo de mundo a um objeto-pessoa ou uma pessoa-objeto”(p.289).

Penelope controla o tempo: tece a trama da eternidade. UIisses controla o espaço:

monta a imagem da totalidade. Dois estilos complementares da vontade de

absoluto: imobilidade morna e melosa, mobilidade fria e seca. E a mesma

esterilidade. Uma só neurose: equilíbrio homeostático. Medo de viver. Vontade de

morrer. Penélope e Ulisses somos todos - em diferentes matizes, a cada momento.

(p.288)


Ao viverem as suas individualidades e por medo de experimentarem o universo um

do outro, perdem a capacidade de criar territórios. Deste modo, Guattari defende que quem

perde é o amor.


Exauridos de tanta repetição, constatamos que ficar enaltecendo (como Penélope)

a volta ao aconchego do lar - o confinamento conjugal -, ou (como Ulisses) a

liberdade da aventura - que só existe em função de seu eterno retorno aquele

ninho - apenas mascara o medo da desterritorialização, por vontade de absoluto.


E não é só isso. Constatamos também que ficar enaltecendo essa liberdade de

circular desencarnadamente, sem Penelope alguma a nos espelhar em sua espera

(máquinas celibatarias), acaba nos desencarnando e da própria vida.

Consternados, descobrimos que por ter pretendido nos livrar do espelho, o que

acabamos perdendo é a possibilidade de envolvimento - como se a única ligação

possível fosse a especular. Por ter pretendido nos livrar da simbiose, o que

acabamos perdendo é a possibilidade de montagem de territórios - como se a

única montagem possível fosse a simbiótica. (288-9)


Outro ponto importante que Guattari ressalta é a capacidade do tempo agir sobre os

personagens, Penélope e Ulisses, modificando-os sem contudo alterar a posição à qual estes

se colocam diante do outro.


Além disso, não é sempre o mesmo Ulisses que Penélope espera voltar; não é

sempre a mesma Penélope que Ulisses abandona ao partir - eles variam, e cada

vez mais. No entanto, a cena é sempre a mesma: há sempre uma mulher que

desempenha a Penélope para ele, sempre um homem que desempenha o Ulisses

para ela (ou vice-versa). Remanescentes ativos de urna familia desaparecida, que

reproduzimos artificialmente sob as mais variadas formas. (p.288)


Uma nova suavidade

“hoje em dia as margens (os marginatti), as novas formas de subjetividade,

também podem se afirmar em sua vocação de gerir a sociedade, de inventar uma

nova ordem social, sem que, para isso, tenham de nortear-se por esses valores

falocráticos, competitivos, brutais, etc. Elas podem se expressar por seus devires

de desejos.” (p.283)


Face a esses modelos afetivos apresentados por Penélope e Ulisses, o autor propõe

uma nova suavidade que corresponde “ao contrário, a novos coeficientes de

transversalidades, à invenção de novas constelações de Universo (devir mulher, devir

música, etc).”. No texto ele enfatiza a criação de outros territórios de desejo, criação esta

que está claramente relacionada à micropolítica da subjetividade, que só é possível através

do processo de desterritorialização e reterritorialização.

“a nova suavidade é o fato de que, efetivamente, (outros devir) podem inserir-se

nos rizomas de modos de semiotização, sem por isso comprometer o

desenvolvimento de uma sociedade, o desenvolvimento das forças produtivas e

coisas assim” (p.283).


Guattari nos convida a ir para além do espelho:

“Um além do espelho, onde o outro não seja mais aquilo que delineia nosso

contorno (Ulisses/Penélope), nem uma paisagem fugaz com a qual, máquinas

celibatárias, não criamos coisa alguma. Um além do espelho onde nossa viagem

não seja nem mais aquela (agarrada) de um Ulisses, nem aquela outra

(desgarrada) das máquinas celibatárias. Viagem solitária: uma solidão povoada

pelos encontros com o irredutivelmente outro.” (p.290)


Uma nova suavidade “além do homem (humano e/ou desumano)” - “Amor não

demasiadamente tão humano, nem tão demasiadamente desumano”, onde campos de

intimidade se instauram - Territórios-pousada. Uma certa inocência, uma nova forma de

amar, um devir-nuvem, como diria Deleuze. A proposta da nova suavidade busca encontrar

uma outra relação para os corpos, uma superação da oposição eu-outro, uma conexão, onde

somos fios que se conectam e se constituem formando teias.


“Mas como seria essa viagem? Dela sabemos apenas duas ou três coisas. A primeira

é que ela só se faz se preservarmos o conquistado pelas máquinas celibatárias — ter

autonomia de voo, um voo onde o encontro com o irredutivelmente outro nos

desterritorializa; ser pura intensidade desse encontro. A segunda é que, se isso é

necessário, não é suficiente: ao mesmo tempo que se dá a desterritorialização, é

preciso que, ao longo dos encontros, territórios se construam” (p.290)


Nesse contexto, os autores destacam a ideia de se criar novos planos conscientes que

não impeçam o movimento. Salientam a necessidade de criar aberturas, espaço para as

intensidades e o improviso. Não é revelado muita coisa dessa viagem, mas eles ensinam a

importância de se ter autonomia de voo e a partir desse encontro com o outro ocorrer a

desterritorialização, contudo isso não é o bastante é preciso o desejo de multiplicar-se, ou

seja, pretender construir novos territórios.


No entanto, devemos estar atentos nessa “nova suavidade” à cilada do espelho, isto é,

ao impulso de não suportarmos a estridência de sons inarticulados, o estado de desconforto

gerados por situações novas, híbridas e aparentemente caóticas. O caos caotizante que

mistura sons em desarmonia e nos ameaça com a surdez para os afetos.

“Há ruídos, sons inarticulados, e muitas vezes não suportamos esperar que uma

composição se faça: na pressa de já ouvi-la, corremos o risco de compor esses

sons com velhos clichês. É difícil não cair na pieguice de um final feliz“.


É previsível a continuidade de um modelo social ultrapassado. Rolnik faz uma

comparação do indivíduo com “replicador” desse molde. “Na verdade, o que não suportamos

é a estridência desses sons inarticulados. É o “nada mais daquilo tudo”. O que não

suportamos é que somos um pouco Penélopes, um pouco Ulisses, um pouco máquinas

celibatárias, um pouco replicantes… e um pouco nada mais daquilo tudo.” Estamos ainda em

um processo de descolonização do desejo, no caminho das novas sintonizações do amor, do

abandono dos modos de subjetivação existentes para criar a possibilidade de novos modelos,

“no entanto, nos momentos em que, desavisados, conseguimos suportá-lo, descobrimos com

certo alívio que, do convívio desencontrado dessas figuras, destila-se já uma nova

suavidade”.


A quebra dos espelhos nos ensina que é importante possuir autonomia de voo. E esta

se faz juntamente com a construção de novos territórios. Uma linha de fuga criadora, um

desejo de multiplicar-se, criar zonas autônomas, encontrar alianças brilhantes, que nasçam

da potência dos encontros. Quando as respostas do passado se tornam defasadas, nos

perguntamos novamente: O que é o amor? Certamente não há uma resposta definida, porém

nos tornamos mais suaves para procurar as respostas.


ASPECTOS CONCLUSIVOS

Como visto no texto de Pinheiro, a cidade contemporânea é composta por diversas

dimensões, as quais algumas se contrapõem às estruturas mais clássicas de uma cidade. Um

dos principais propulsores dessas dimensões é a cultura do consumo, sendo a responsável

pela “transitoriedade dos vínculos e do espaço, impressa pela valorização da imagem” (p. 47).


Dessa maneira, a cidade contemporânea, à luz de uma cultura do consumo, se relaciona às

características como descentralização, virtualidade, perda das referências simbólicas, mídias,

diluição da relação tempo-espaço, complexidade, fragmentação, fluidez.


Nesse contexto, o processo de subjetivação e afetação do sujeito pela cidade é

transformado. A vida ágil da contemporaneidade torna “o objetivo final (ser) mais importante

do que o processo (por que ser)” (PINHEIRO, p. 53). A constituição do sujeito por meio dos

seus territórios de desejo resultam em desterritorializações rápidas e constantes e a falta de

consolidação na vida psíquica, importante para a criação de vínculos, sejam eles interpessoais

ou espaciais. Para Haroche (2008), o espaço é decisivo na constituição do sujeito e a cidade

contemporânea marcada pela transitoriedade provoca um sentimento de angústia,

despossessão, desconfiança e indiferença, que leva o sujeito a uma contenção do espírito

comportamental, assim, provocando a dificuldade da consolidação sensorial em novos

territórios.


Para Rolnik, é subtraída a capacidade de envolvimento, sendo substituída pela

especulação. “O capital inflacionou nosso jeito de amar: estamos inteiramente desfocados”.

Neste mesmo sentido, Guattari nos convida a buscar uma outra relação para os corpos e uma

nova sintonização para o amor, defendendo a necessidade de criação de territórios do desejo

que se relacionem diretamente com as micropolíticas da subjetividade.


É preciso repensar o papel da sensorialidade e da percepção, entender como a

alteridade se estabelece na cidade contemporânea e descolonizar o desejo. Enquanto

pesquisadores da subjetividade, é esperado que possamos nos habituar a ter um olhar crítico

sobre as dinâmicas de afeto nas cidades contemporâneas e as possibilidades de criação de

novos modelos de subjetivação.


ALINHAMENTO COM AS PESQUISAS - Alunos no PROARQ/UFRJ


Ana Paula Lettieri - Doutorado

O foco da minha pesquisa está no ambiente gerado no entorno dos hospitais gerais da

cidade de Campos dos Goytacazes, localizada no estado do Rio de Janeiro, buscando

investigar os impactos sensíveis sobre sua qualidade, do ponto de vista da percepção do lugar

e de sua relação com a paisagem urbana. A partir dos textos lidos para o seminário da

disciplina, foram identificadas correlações no que diz respeito às subjetividades inerentes às

paisagens urbanas, especialmente na cidade contemporânea, e suas diferentes percepções e

significações para os diversos sujeitos que a vivenciam. Também oportunizou-se a reflexão

sobre a importância de atentar para o fato de que as maneiras de sentir se alteram ao longo da

história, e compreender as novas maneiras de sentir – apontadas pelos autores – torna-se

essencial para analisar como esses entornos impactam as pessoas.


● Mariana Agum - Mestrado

O foco da minha pesquisa no PROARQ/FAU/UFRJ está no estudo das ambiências

urbanas em locais de vulnerabilidade ambiental associada às ações antrópicas no meio

ambiente, buscando formas de fomentar uma comunicação participativa e de ampliar a

conscientização da população local. Os textos abordados neste seminário colaboram para o

entendimento das ambiências urbanas e da subjetividade frente às cidades contemporâneas,

deixando clara a necessidade de compreender as novas dinâmicas de afeto em constante

movimento. Além disso, evidenciam e discutem a reciprocidade de afetação entre o ser e o

ambiente, que é um ponto chave da pesquisa, uma vez que as degradações ambientais seguem

este mesmo comportamento.


● Paolla Clayr - Doutorado

A pesquisa tem seu foco voltado às expressões do grafite de rua na cidade de Campos

dos Goytacazes, Rio de Janeiro, especialmente às manifestações artísticas presentes no centro

comercial e histórico, com ênfase onde estão localizadas essas obras, nos seus lugares e

não-lugares. Os autores abordados neste seminário alinham conceitos da subjetividade da

cidade contemporânea, nas percepções do sujeito e suas participações no espaço, seus modos

de vivenciar e percebê-los, senti-los e significá-los, num processo mútuo de troca: cidade e

sujeito, sujeito e cidade, reconhecendo a transdisciplinaridade (ou indisciplinaridade?) da

arquitetura somada às outras áreas de estudo.


● Rafael Ferreira - Doutorado

A pesquisa que desenvolvo no PROARQ/FAU/UFRJ visa em última instância investigar

a essência e os sentidos das ruínas industriais da cidade de Petrópolis, no Estado do Rio de

Janeiro. De cunho fenomenológico, a investigação busca mesclar ações de campo

experimentais, nos moldes do grupo Urbex (Nomenclatura para Urban Exploration em

inglês), e teorias da arquitetura e fenomenologia desenvolvida por arquitetos-teóricos como

Juhani Pallasmaa, Christian Norberg-Schulz e Jorge Otero-Pailos. Através deste arcabouço, o

estudo parte dos processos de intersubjetividade produzidos entre os espaços cognitivos e

físicos, para estruturar uma metodologia de leitura dos espaços arruinados, das fábricas

abandonadas, captando assim através da percepção multissensorial (Merleau-Ponty, 1999), as

ambiências sensíveis e a linguagem emanada pela imagética das arquiteturas em ruínas.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


HAROCHE, Claudine. A condição sensível. (Tradução de Jacy Seixas e Vera Avellar

Ribeiro). Rio de Janeiro: Contracapa, 2008


PINHEIRO, Ethel. Cidades-Entre: Dimensões do Sensível em Arquitetura ou A

Memória do Futuro na Construção de uma Cidade. Tese de Doutorado, PROARQ. UFRJ,

2010. (pag. 45 a 60).


GUATTARRI, Felix e ROLNIK, Suely. Micropolítica: Cartografias do Desejo.

Petrópolis: Ed. Vozes, 1996. (pág. 281-290)


NOTAS

[1] Este fichamento é baseado nas três subseções (2.1.1; 2.1.2; 2.1.3), da seção (2.1) Conceituando

Cidade, do capítulo 2 (Cidade e Contemporaneidade: Complexidade de Definições).

[2] Cf.: Através do conceito de Memória do Futuro, que apresentaremos como resposta à

transitoriedade das cidades, poderemos buscar nos relatos deste passado-presente-futuro uma cidade

nunca perdida, antes, arquivada em uma das ‘pastas dinâmicas’ construídas para suportar a

mobilidade de homens e cidades (PINHEIRO, 2010, p.47).

[3] Cf.: Quando se esvaem as fronteiras entre o homem exterior e o interior, entre a coletividade e a

individualidade, surge a ‘familiaridade’, a sensação de que o mundo compartilhado ‘em todo lugar’ é

permissível, é público (...) (PINHEIRO, 2010, p.56).

[4] Cf.: Sensibilizar-se, criar estratégias de fuga e recompor-se na cidade contemporânea são as

máximas da positividade, que defendem a ideia da cidade ‘entre’ (PINHEIRO, 2010, p.51).

[5] Este fichamento está baseado nas partes de Prefácio, Introdução, Capítulo 12 e Conclusão do livro

em questão./

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